Corria o ano de 476. O grandioso Império Romano mostrava seus últimos sinais de vida. Átila, rei dos Hunos, invadira Roma e pusera fim ao maior reinado da História. Um Império aparentemente invencível, que viveu seus anos de apogeu no reinado de Augusto, que conquistou o povo com pão e os soldados com terras. O imponente coliseu era palco de sangrentas lutas que entretinham a população e reforçavam o poder divino do Imperador.

Mas a opulência e poderio romano se sustentavam num custoso tripé: só haveria gladiadores se houvesse escravos, que só seriam conquistados através de intensas guerras para torná-los prisioneiros, obrigando o governo romano a pesados investimentos bélicos. E só haveria pão caso fossem conquistadas terras para a plantação de trigo. Quando o dinheiro escasseou, os gastos militares foram cortados, e o que parecia ser sólido castelo ruiu como se fosse uma simples brincadeira de baralho.

Findava-se 2017. Um império futebolístico chegou à sua ruina. Engana-se quem pensa que foi repentino, ou que não mostrava sinais de decadência. A tragédia da desclassificação da Copa do Mundo Rússia 2018 não pode ser considerada uma batalha isolada em que os bravos soldados foram derrotados por nórdicos ferozes. Há duas edições de Copa do Mundo que a Itália não consegue passar da fase de grupos. E não podemos dizer que foi derrotada por bárbaros com forte poderio bélico. Em 2010, Eslováquia, Paraguai e Nova Zelândia (aquela mesma que tem nas suas arenas grandíssimos jogadores de bola oval) deixaram a Azurra  roxa, mas de vergonha, após chegar à Copa com a pompa de ser a atual campeã. Em 2014, o grupo da morte foi muito para uma seleção comandada pelo inconstante Mario Ballotelli, e viu Uruguai e Costa Rica avançarem para as oitavas de finais e acabou a Copa lembrada por ter tido sua vaga mordida junto com seu zagueiro Chiellini no último jogo.

O custo da grandeza mais uma vez bateu à porta de Rômulo e Remo. Acostumados a grandes espetáculos, encheram suas arenas de estrangeiros, na expectativa de atrair as grandes figuras do futebol mundial. O resultado foi o enfraquecimento das seleções nacionais, tanto na base quanto na categoria principal. Ilusões passageiras, as Copa de 2006 (título) e a Eurocopa de 2012, desapareceram igual miragem no mesmo deserto egípcio que um dia ostentavam com orgulho.  Uma seleção enfraquecida, que repete erros e insiste em se fechar e se defender e quando precisa do ataque não consegue abrir flancos na retaguarda do adversário. O seu principal lutador encerra uma carreira brilhante com um final totalmente indigno da sua brilhante carreira. Mas o coliseu é cruel, e a bola, assim como a espada, punem.

Desta vez, não precisava esperar os bárbaros, o Império implodiu, os gladiadores choram a derrota e o mundo observa perplexo a queda de um gigante.

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