Em menos de uma semana, a Chapecoense recebeu duas facadas da CBF. O clube, que já havia declinado ao convite do Benfica para participar da Eusébio Cup, terá que abir mão também da disputa do Troféu Joan Gamper, do Barcelona.

A razão alegada pela entidade para impedir que a equipe se mostre no exterior e faça parte das tradicionais partidas em que os gigantes europeus apresentam seus times para a temporada é o calendário, já que há jogos pela Série A do Brasileirão e pela Sul-Americana, competições as quais a equipe catarinense disputa. Os jogos amistosos estavam marcados para os dias 22 de julho, no Estádio da Luz, e 7 ou 8 de agosto, no Camp Nou, com a Chape podendo escolher um dos dois dias.

Pura conversa fiada!

Vamos agora aos compromissos do Verdão do Oeste que gerariam conflitos de datas: no dia 23 de julho, o time catarinense visitará o Vitória, em Salvador; já no dia 6 de agosto, o jogo é com o Coritiba, também na condição de visitante. A solução seria alterar as datas destas partidas, que, importante frisar, compõem rodadas que ainda não foram desmembradas. Ou seja, faltou boa vontade por parte da cada vez mais antipática CBF, pois datas mesmo é que não faltam. Pela Sul-Americana, há o jogo da volta contra o Defensa y Justicia, aquele timeco que eliminou o São Paulo, dia 25 de julho, dois – preste atenção: DOIS  dias depois do jogo com o Vitória, que deve ser antecipado para a véspera.

Se não, vejamos: há uma semana entre as rodadas 11 e 12. A Chape enfrenta o Fluminense fora no dia 3 de julho e só volta a campo no dia 9, contra o Atlético paranaense. Entre estes jogos, poderia ser encaixada sem problema nenhum a partida contra o rubro-negro baiano, uma vez que nenhuma das equipes têm compromisso agendado para estes dias.

O jogo com o Coxa, no encerramento do primeiro turno, poderia tranquilamente ser antecipado para o sábado, dia 5, já que a rodada seguinte acontece somente uma semana depois e tanto a Chape quanto o Coritiba jogam na quarta, pela rodada de número 18. Daria para jogar pelo Brasileirão, viajar para a Espanha (com todas as despesas pagas, além de uma prometida ajuda financeira por parte da equipe catalã). Neste caso, a CBF nem pode alegar que jogar na quarta e no sábado pode ser prejudicial às equipes, pois esta condição deverá ocorrer para que entre o jogo com o Vitória e com o Defensa y Justicia haja um intervalo de três dias (que seria o mesmo, caso ela remanejasse a partida contra os paranaenses).

Engana-se quem pensa que isso não precisou ser feito. Quando, em 2013, o São Paulo solicitou que seus jogos fossem alterados para participar de torneios amistosos no exterior (inclusive a Eusébio Cup), a CBF não pensou duas vezes em viabilizar a viagem tricolor, quando, exceto pelo jogo contra o Benfica, só passou vergonha. Foram três as partidas, entre as rodadas 10 e 12: contra o Náutico, do dia 1º de agosto, foi adiado para 3 de setembro; em vez de enfrentar o Bahia no dia 4 de agosto, o fez bem antes, em 10 de julho, a exemplo do que acontecera contra o Internacional, antecipado do dia 12 de agosto para 24 do mês anterior.

Mais coincidências que não teriam sido percebidas caso a CBF quisesse: o jogo com o Internacional aconteceu quando houve um hiato de uma semana entre a oitava e a nona rodadas; o mesmo foi observado entre as rodadas 6 e 7, que foi quando o time do Morumbi pegou o Bahia. Para acomodar o jogo com o Náutico, o Tricolor fez três jogos em cinco dias, entre 1 e 5 de setembro. Mas aí a tabela não atrapalhou. Talvez por se tratar do São Paulo.

Como também fez com o Santos, que teve as datas de duas partidas modificadas para que pudesse apanhar de 8 do Barcelona no mesmo ano.

Em menos de 15 minutos eu arrumei as datas possíveis para viabilizar a participação da equipe. Bastou cruzar datas e tabelas das duas competições com os amistosos, coisa que a CBF sequer cogitou em fazer, pois não há interesse em facilitar a vida da equipe. Vale recordar que Delfim Peixoto, presidente da Federação Catarinense de Futebol e que desapareceu no mesmo acidente aéreo que vitimou a Chape, era desafeto político de Marco Polo Del Nero, que apesar do nome não pode viajar para fora do país, e que só não foi conduzido ao cargo de presidente da CBF quando Del Nero se afastou, no auge das denúncias de corrupção na entidade, porque houve a mutreta que possibilitou que o obscuro e conveniente Antônio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, presidente da Federação Paraense de Futebol, fosse eleito vice-presidente da região Sudeste. Sendo mais velho que Peixoto, Nunes assumiu o cargo durante a vacância deixada pelo capo di tutti capi Del Nero.

Com a inexplicável recusa em mudar as datas dos jogos com a Chapecoense, a CBF deixa claras duas coisas: não está nem aí para o notável trabalho de reconstrução da equipe catarinense, e não me venham apontar o amistoso que o Brasil disputou com a Colômbia; e, principalmente, que trata-se de uma entidade extremamente vingativa.

O fato é que a solidariedade demostrada no lamentável acidente teve prazo de validade, para não dizer que, em muitos casos, foi oportunista. Os clubes que, no ápice da comoção, ofereceram ajuda, agora se calam. Colocaram distintivo em site, em perfil oficial ou na própria camisa, inserir trechos do hino no uniforme. Tudo muito bonito, mas é como abraçar árvore e não serviu para porcaria nenhuma. Todos eles, sem exceção, merecem cada esculhambação que parte desde a Barra da Tijuca. 7 a 1, amigos, realmente foi pouco, bem pouco.

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