Nesta semana, Dean Spanos, dono do então San Diego Chargers anunciou a mudança da franquia de San Diego para Los Angeles – e através de uma carta divulgada nas redes sociais do time. O anúncio da nova casa dos “bolts” causou comoção e revolta nas redes sociais, especialmente por parte dos torcedores da cidade de San Diego, sentindo-se traídos com a decisão do mandatário. O problema, porém, vai muito além da cidade ou de Spanos, mas sim de um sistema da NFL que prioriza o poder e o dinheiro, em detrimento dos fãs ou das raízes do time na cidade.

Explico: para se ter um time na NFL é necessário um estádio com uma boa estrutura, uma grande base de fãs (não se vê estádios vazios por lá), uma cidade que se envolva com a equipe e dê suporte financeiro e de logística, um dono com bastante dinheiro e uma bela dose de boa vontade da Liga. E o martírio de San Diego começou quando a NFL, em parceria com a cidade de Los Angeles anunciou que havia o desejo de levar o futebol americano de volta par lá. LA não possuía um time na principal liga de futebol americano desde 1994 e a NFL anunciou que construiria um novo estádio, moderno e com capacidade para mais de 80 mil lugares, além de prover todo o suporte necessário – leia-se muita grana – para a franquia que se mudasse para lá.

Logo de cara o St. Louis Rams, por intermédio de seu dono Stan Kroenke, se interessou. Os Rams foram de Los Angeles entre 1946 e 1994, e uma volta para a cidade faria sentido, já que há uma base de fãs da equipe em LA. A negociação foi rápida e os Rams já jogaram a atual temporada em Los Angeles, atuando no Coliseum enquanto o novo estádio não fica pronto. A situação obviamente não agradou os torcedores em St. Louis, mas ainda fazia sentido para a NFL e para Kroenke, lucrando com a volta de um time numa cidade tão grande e potencialmente comercial como Los Angeles e para os próprios Rams que ainda tinham identificação com LA.

A situação com os Chargers é totalmente diferente. Embora a NFL quisesse mais uma franquia em LA, o time possui enorme identificação com San Diego, onde está instalado desde 1961 – a franquia existe desde 1960, portanto pouco se viu os Chargers fora da cidade. Praticamente toda a base de fãs da equipe está na cidade e a NFL já havia conseguido um time para Los Angeles. Um ano de negociações, envolvendo a cogitação de construir um novo estádio em San Diego (e o veto pela população da cidade, por entender que haviam outras prioridades), muitos protestos e uma temporada abaixo da crítica da equipe fizeram Spanos decidir por Los Angeles. Pior: logo após o anúncio da decisão, o logo dos Chargers foi mudado para simplesmente um “LA”, provocando a ira dos fãs nas redes sociais. Depois o logo foi mudado mais duas vezes em menos de 48 horas, mostrando a bagunça que essa mudança está sendo. Uma decisão puramente comercial, de um dono que em momento algum se preocupou com os torcedores locais, apaixonados pelos Chargers e que sempre fizeram de San Diego um lar para a equipe nesses 56 anos de parceria.

Antigo logo dos Chargers foi substituído por..

…um que nem fazia menção ao nome da franquia. O insucesso foi tanto que o novo logo foi retirado algumas horas após ser anunciado.

Imagine torcer para um time desde que nasceu, frequentando estádio e fazendo dele um segundo lar, comprando camisas e souvenirs, acompanhando de perto todos os passos de um clube que vira uma família e de repente isso ser tirado de você. É uma tragédia pessoal, como se alguém da família falecesse. O documentário “The Band That Wouldn’t Die”, da série 30 for 30 da ESPN mostra bem isso: senhores e senhoras de Baltimore falando sobre a família que construíram ao redor do Baltimore Colts, que mudou para Indianapolis em 1984, e chorando ao lembrarem dos caminhões de mudança saindo do estádio. Uma dor que dinheiro nenhum pode apagar.

A NFL é uma liga de muito sucesso comercial e técnico, mas precisa resolver o problema com os fãs e suas franquias. Ninguém quer ter a insegurança de amar uma equipe e vê-la mudar de cidade apenas para obtenção de – ainda mais – lucro e marketing dos donos das franquias ou da Liga. Acabar a paixão das pessoas por futebol americano, como fez com os senhores de Baltimore e os fãs do San Diego Chargers não é natural. E isso deveria incomodar a NFL.

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