Diz o adágio popular que na briga do mar com o rochedo, o marisco leva a pior. Gosto de provérbios, da sabedoria que emana do povo.

Isso quando o povo é sábio, o que nem sempre acontece. Ultimamente, aliás, ponderação tem sido exceção quando um tema qualquer vai parar nas tribunas em que todo mundo gosta de opinar (quase tudo, portanto). O recente impasse entre CBF e Globo, parceiros de mais de um quarto de século, é um caso desses.

Recapitulando, a questão começou quando da realização do chamado “Jogo da Amizade”, entre Brasil e Colômbia. A partida, que levantou fundos para auxiliar as vítimas da tragédia do voo da Chapecoense, não era prevista no contrato entre a Vênus Platinada e a CBF, que teria pedido dois milhões de reais pela exclusividade do evento. Não houve acordo e, como se sabe, a entidade abriu o sinal para quem quisesse transmitir.

No segundo capítulo, estiveram os dois amistosos da equipe nacional disputados no início deste mês de junho, contra Argentina (o maior clássico entre seleções do mundo) e Austrália. Sem acordo com a emissora do Jardim Botânico, a saída foi comprar espaço nas TVs Cultura e Brasil, transmitido em Brandend Content, que é quando a própria marca produz o conteúdo, como explica o slide de apresentação do projeto da própria CBF (veja abaixo):

Slide integrante do plano comercial da CBF (blogdojuca)

Slide integrante do plano comercial da CBF. Foto: blogdojuca (reprodução).

De todas as consequências, a maior delas impacta diretamente na qualidade da informação. Ora, a CBF, sendo a promotora do evento, não fornecerá material ou matéria-prima para que ela mesma seja criticada. Seu produto, então, que é a própria Seleção, nem pensar. Numa comparação grosseira, quem quer vender um carro não irá mencionar eventuais problemas no motor ou um reparo quase imperceptível na lataria, a não ser que o sujeito seja um exemplo de lisura. O que, convenhamos, não é o caso da entidade. O que, convenhamos outra vez, não parece ser motivo de preocupação da massa que elegeu as Organizações Globo como inimigo público número 1. “Inimigo do meu inimigo é meu amigo”, mesmo que o primeiro seja a CBF.

Não é algo muito sensato.

E não é porque boa parte dos que detratam o canal da família Marinho assiste à sua programação e consome os produtos de seus anunciantes. O negócio é ficar feliz porque há uma pedra no sapato do gigante, mesmo que, para isso, o resultado seja uma transmissão chapa-branca, que é como se diz no jargão do jornalismo quando a cobertura é simpática ao que está em foco. O que, inclusive, pode ser observado no dia a dia da imprensa esportiva quando esta usa o material produzido pelos próprios clubes, por economia ou conveniência. É uma espécie de jornalismo a la carte, em que basta sentar-se à mesa e aguardar que o prato seja servido.

Na briga do mar com o rochedo, quem leva a pior é o marisco. E o marisco, no caso, é o jornalismo.

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