Serão memórias. Não póstumas, como Brás Cubas, mas memórias desenhadas a mão livre, com suor, inspiração e muito, mas muito amor.

Nunca será uma missão simples colocar em palavras, ainda que emocianadas, alguma coisa coerente e correspondente ao que você fez, representou, ousou e matou no peito por nós, pelo futebol, Zé.

Fui incumbido da tarefa. As pernas tremeram, como tremeram as mãos de nervosismo quando o chute do Robinho se encaminhava manhosa e sadicamente rumo ao gol do invicto Jailson. Gelamos todos.

O tempo parou.

É como se déssemos um pause e colocássemos as nossas mãos no caminho daquela bola traiçoeira. Ela poderia colocar abaixo uma conquista que deu a mim, e a muitos, a primeira alegria nacional. Por Deus, ou algum ser intangível, você esteve de corpo, barriga, perna, coração e alma pra impedi-la e nos dar a chance do sonho.

Capítulo de suas memórias.

Benjamin Button do Palestra, você escreveu sua história de forma anacrônica. Meu professor de literatura não falhou ao me contar que “só gênios ou Deuses podem ignorar o tempo e circular pela vida”. Você pode. Poderá sempre. Aqui cabe uma memória viva de um torcedor que quase deixou póstumas de tamanha alegria: 02/12/16.

A êxtase de conquistar o Brasil que seu esforço pode nos dar era incontável, era a multidão que vencia a Avenida Paulista, éramos nós cantando Queen quando Alexandre Mattos entrega o microfone a Zé Roberto que diz: “Já fui campeão no mundo todo, mas esse é o maior título da minha carreira”. É gol na capital paulista. Golaço.

De humildade. Generosidade. Zé Robertice. É seu, nato. Sabemos que não era o maior torneio do mundo, a liga mais poderosa, o auge da sua carreira. Você nos deu esse privilégio. Nós só podemos te dar carinho. Agradecer. Deixar uma lágrima escrita.

Foram momentos gloriosos, doloridos, briguentos, extasiastes. Foi campeão duas vezes. Foi o ponto inicial de tudo. Benjamim que nasce. Primeiro parágrafo das memórias. O fim da crônica.

“Bate no peito do amigo e diz: o Palmeiras é grande”. Você é gigante, meu amigo. Enorme. Imensurável. Que respeito teve conosco e que postura de chamar pra si a responsabilidade de carregar a reconstrução de um gigante que estava em contagem aberta. Levantou a taça em 2015. Os pênaltis decisivos. Aos quarenta, suportou milhões. Comprou nossas brigas, como um animal, au au au.

Zé, em nome de todos nós, bate no peito e fala: o Zé Roberto é o cara.

Volte sempre, a casa é sua.

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