Além de ser um dos maiores clubes do mundo, o Liverpool também é um dos mais engajados em causas sociais, especialmente nas que envolvem a cidade do time ou comunidades britânicas. Só nos exemplos mais recentes, podemos lembrar da campanha “Seeing is Believing” estampada na camisa (“enxergar é acreditar” em português), conscientizando sobre a perda de visão evitável ao redor do mundo e também a luta contra o câncer, com a campanha “Be Clear on Cancer” em 2014. Além disso, ainda possui a Liverpool FC Foundation, que realiza ações sociais ao redor do mundo, levando o nome do clube para além do futebol.

Acima, vídeo promocional da campanha “Seeing is Believing” com Steven Gerrard

Mas nenhuma delas foi tão impactante, ao menos nas redes sociais, como a desta semana. O Liverpool FC decidiu mostrar apoio à Liverpool Pride, uma instituição de caridade que combate a homofobia e transfobia em várias cidades da região de Liverpool. O trabalho da organização começou em 2010, após o brutal assassinato de Michael Causer, de 18 anos, após uma festa na cidade. Durante as investigações, os policiais descobriram que Michael foi morto e torturado por dois jovens que também estavam na festa e descobriram que Causer era gay. Enquanto o torturavam e agrediam, os criminosos diziam que estavam fazendo aquilo “porque Michael merecia e gostava, já que era gay”. Desde então, o trabalho da Liverpool Pride é feito durante todo o ano, com apoio emocional e jurídico a vítimas de homofobia, além de uma semana do orgulho gay, com uma espécie de Parada Gay, como acontece no Brasil, para conscientizar as pessoas da importância do combate à violência contra LGBTs. A deste ano acontece neste final de semana com o tema “Todos Juntos Agora”.

Por isso, o Liverpool FC fez apenas duas postagens em suas redes sociais: uma explicando o trabalho da Liverpool Pride e exaltando a importância do combate à homofobia e outra mudando a logo do clube. E essa foi a polêmica.

Além de várias respostas homofóbicas,  ainda surgiu mais um tema: a religião. Isso porque o Liverpool ganhou milhões de fãs muçulmanos e árabes nos últimos anos, com as contratações de Mané, Keita e, principalmente, Mohamed Salah. Ser gay é considerado crime em 73 países, incluindo o Egito, país de Salah. 13 desses 73 preveem a pena de morte para atos sexuais consentidos entre pessoas adultas do mesmo sexo. Todos os treze possuem o Islamismo como principal religião. E foram deles as reações mais absurdas. Respostas como “como pode um clube apoiar um ritual satânico?”, “estou deixando de torcer por vocês” ou “orientação sexual não tem espaço no futebol” estavam lá, com muitos likes nas mais diversas redes sociais.

A mais comum delas era: “futebol, política e religião não se misturam. Deletem isso”. Ditas por muçulmanos, ingleses, holandeses e também brasileiros, nas redes sociais do clube. Se bem que por aqui não é novidade ouvirmos isso.

O futebol é e sempre foi instrumento social, para o bem ou para o mal. Já foi usado como propaganda política de governos, mas também já parou guerras. Já foi e ainda é usado, por instituições que controlam o esporte, para promoção de interesses pessoais e políticos ao redor do mundo, mas também consegue fazer a vida de um país parar para assistir uma Copa do Mundo e, ao menos por 90 minutos, focar em algo feliz. Desconsiderar o esporte enquanto instrumento social e político é burrice.

Felizmente, ainda existe quem use todo esse potencial que o futebol proporciona para o bem, como recorrentemente faz o Liverpool FC. A corrente contra a campanha mostra exatamente o motivo dela ser tão importante e do tema LGBT ainda precisar de muito debate, discussão e imposição. E pra você que não gostou da ação, lembre-se do principal lema deste clube gigante. “YOU WILL NEVER WALK ALONE”. YOU. VOCÊ. Não importa se é hetero, gay ou bi. Cis ou trans. Para o Liverpool e com o Liverpool, você nunca caminhará sozinho.

 

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