Não faltam textos dizendo da evolução tática deste time de elenco não tão extenso, recheado de nomes e sabores refinados, do crescimento de um onze inicial que começou reticente, cheio de duvidas sobre si, cheio de pedras e principalmente sob a sombra de anos em que seu nível de atuação foi de recital. O desafio de Carille é inglório. A conquista é de caráter.

O campeão Paulista é absolutamente sólido, é incontestável. Se alguém resolver diminuir ou desafinar os acordes de fado que esta taça tem, não se irrite, torcedor campeão paulista, isso nada mais é do inveja. Roxa, aguda, doída. Uma doença que de ano em ano, assola os que perdem o estadual. Importante? Demais. O resto, é só discurso de quem perdeu.

Um amigo acaba de dizer: “o grande mérito do Corinthians foi jogar como time grande, mesmo sabendo não ter um grande time”. Uma verdade tão grande quanto o gol de Basílio em 1977. Os melhores times que vi, em 22 anos de vida, são os que têm alma, estratégia e disciplina. Isso sobrou ao esquadrão comandado por Jô e Romero, a personificação do amor ao trabalho, da dedicação cega, do suor pra vencer. Da glória.

Passou por tanto percalço, por tanta porrada, por eliminação na Copa do Brasil, por uma derrota a um dos rivais no primeiro desafio do ano, do técnico chamado de estagiário. É uma forma de orgulho haver um texto destes após, como um rival de paixão, mas irmão de dor, poder exaltar Carille e comandados. Essas dificuldades ficam como oferendas pela taça, a entrega tamanha para chegar até lá. Deu o espírito, a fé tipicamente alvinegra.

Fé. Ingrediente que vem dos corações, alguma coisa muitos acima dos bens materiais de ser torcedor. O corinthiano é um ser esculpido na dor, com habilidade de sofrer e crescer na falta de sucesso. O Corintianismo andava em baixa, a empáfia de vitórias deixou etéreo o olhar de fé, confundiu as sensações. O tempo, graças aos Deuses de Preto e Branco, se encarregaram de dar uns dias de nada para que fosse recuperado esse maior bem que a torcida centenária tem. Essa religião onde a fé é alvinegra e a vitória é consequência.

Ao Carille, todas as honras, o rosto desta mudança. Humilde, guerreiro, trabalhador e cidadão de bem. Calou-se e conquistou. Bonito demais. Aos homens que trouxeram a taça, méritos. Taticamente muito bem, tecnicamente corretos e extra classe na dedicação. Aos torcedores: parabéns, o Corinthians, o clube que mais ignorou a divisão de forças, mas aquele que mais soube somá-las.

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