Na última semana uma notícia causou muita comoção e homenagens no mundo do futebol: após 22 anos no comando do Arsenal, o treinador francês Arsene Wenger anunciou que deixará o clube ao final da temporada. Será o fim de uma de uma relação bonita e vitoriosa, mas que já durava mais tempo do que devia.

O então desconhecido Arsene Wenger chegou à Inglaterra em 1996 vindo do Japão, onde havia treinado o Nagoya Grampus. Era um futebol inglês diferente do que conhecemos hoje. A Premier League, criada em 1992, ainda engatinhava. O futebol europeu abria portas para os estrangeiros e quem vinha de fora encontrava dificuldades. Em um futebol inglês marcado pela bola aérea e o jogo feio, Wenger chegou com uma proposta nova, um time de jogadores mais técnicos e que prezasse a bola no chão e a troca de passes. Além disso, mudou hábitos do clube, como alimentação mais regrada e controle de bebida alcoólica.

A primeira glória de Wenger no comando do Arsenal veio na temporada 1997-1998, com a conquista da primeira Premier League, feito repetido em 2001-2002, ao vencer o Manchester United dentro do Old Traford, e o, mais marcante deles, o título invicto da temporada 2003-2004. Nessa equipe o técnico francês contava com a segurança de Lehman no gol, Campbell na zaga, Vieira comandando o meio e os gols da fortíssima dupla de ataque Bergkamp e Henry. Foi o auge de Wenger no comando do Arsenal. Além dos três títulos ingleses, colecionou sete títulos de Copa da Inglaterra e um vice da Liga dos Campeões, ao perder a final da temporada 2005-2006 para o Barcelona.

Após uma primeira década de brilho no comando do Arsenal, o cenário começou a mudar para Wenger e o Arsenal de 2007 pra cá. Já veteranos, os jogadores do inesquecível time de 2004 começaram a deixar o time ou até se aposentar. Gastando pesado na construção do novo estádio, o Emirates, os Gunners deixaram de investir tão pesado como antes e passaram a olhar para jovens com potencial. Chegaram Nasri, van Persie, Denilson, Rosicky. O investimento menor somados ao crescimento do Chelsea e o surgimento do novo rico Manchester City levaram o Arsenal de protagonista pelo título à coadjuavante da Premier League.

Jogadores pediram para deixar o clube em busca de protagonismo em outro lugar e o Arsenal foi alvo de goleadas humilhantes (8 a 1 para o Manchester United em 2011 e 6 a 0 para o Chelsea em 2013). Os únicos títulos após a conquista invicta de 2004 foram três taças da Copa da Inglaterra. Na temporada passada, após 20 anos seguidos, os Gunners ficaram fora da Liga dos Campeões da Europa.

Arsene Wenger é um ícone, o treinador que revolucionou não só a história do Arsenal, mas foi importante para a Premier League ser o campeonato badalado e competitivo que é atualmente. Entretanto, postergou demais seu tempo a frente do Arsenal. Devia ter deixado o comando dos Gunners há uns cinco anos, quando o clube há algum tempo já não tinha mais forças para brigar entre os principais times ingleses. Nos últimos anos o rendimento na tabela vem piorando cada vez mais, com protestos dos torcedores e lugares vazios no estádio. Um desgaste que poderia ter sido evitado se não fosse a “fome de trabalho” do treinador francês.

Antes de começar uma nova era, o Arsenal terá a chance de dar uma última alegria ao torcedor sob o comando de Wenger, pois o clube disputa a semifinal da Liga Europa contra o Atlético de Madrid.

 

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