Se você vive ou habita o estado de São Paulo, deve saber que hoje, dia 9 de julho, é um feriado estadual. Desde 1997, quando foi instituído, o dia comemora o início da Revolução Constitucionalista de 1932, que completa 84 anos em 2016.

Apesar da data tão importante, principalmente para o paulistas, não são todos que sabem o real significado do acontecido. Alguns acusam o movimento de ser uma tentativa da elite cafeeira de São Paulo de retornar ao poder, quando, na realidade, o ideal paulista é conquistar uma nova constituição para o Brasil da época.

A Revolução


Após os ocorridos na Revolução de 1930, que depôs Washington Luís da Presidência e impediu que Júlio Prestes assumisse a vaga de governador de São Paulo, Getúlio Vargas assumiu o governo provisório, sem uma constituição vigente. A última havia sido criada em 1891.

A situação política começou a ficar tensa a partir daí, quando Vargas começou a depor os governadores dos estados e colocando seus aliados políticos no comando. Mas, em 1932, a situação explodiu.

O estopim da crise e fagulha para que algo acontecesse, ocorreu em 23 de maio daquele ano. Na Praça da República, em São Paulo, estudantes paulistas tentaram invadir a sede do governo do estado, em atitude contrária ao autoritarismo do mesmo, e acaram recebidos a tiros pelos governistas. Tal atitude colocou fim à vida de quatro estudantes: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Foi daí que surgiu o MMDC que, a partir de julho, pegou em armas contra o governo.

E o esporte?


Se você chegou até aqui, deve estar se perguntando: “Ok. Bacana… Mas, o que isso tem a ver com o esporte”. Calma, torcedor. Vou explicar.

O grande lance da Revolução Constitucionalista de 1932 foi que ela não foi feita apenas por militares. Milhares de civis, de livre e espontânea vontade se juntaram aos fronts de batalha contra o governo Vargas. Pessoas simples, como eu e você, pegavam suas armas e partiam para defender um ideal.

E entre esses paulistas, claro que existiam esportistas, sendo que um merece destaque e você conhecerá no próximo tópico.

Arthur Friedenreich


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Friedenreich (direita) em seu fardamento de soldado

O “filho” mais pródigo do Batalhão dos Atletas que, segundo matéria publicada pela Folha de São Paulo em 2012, contava com quase 3.000 esportistas, foi Arthur Friedenreich. Fried ou El Tigre, como era apelidado, foi o maior jogador do Brasil durante a fase amadora do futebol. Estima-se que Frid teria marcado 1.239, número bem próximo a Pelé que, na era do futebol profissional, marcou 1.281

Além disso, ele é tido como um dos maiores jogadores da história do São Paulo. Para os que não sabem, o time, nascido em 1935, é considerado o sucesso do Paulistano e do São Paulo da Floresta, que eram as melhores agremiações nos primórdios do futebol nacional.

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Objetos e uniformes usados por Arthur Frienderich na Revolução de 1932. Foto: Fábio Braga/FolhaPress

Aos 40 anos de idade, Fried deixou a bola de lado e partiu para liderar um batalhão na Revolução. Elevado à patente de segundo Tenente, ele liderou um grande contingente de atletas, não apenas jogadores de futebol, que abriram mão, até mesmo, de disputar as Olimpíadas de Los Angeles, nos Estados Unidos, que aconteceram naquela ano.

Mas o espírito de liderança de Fried não ficou apenas no campo de batalha. Fora dele, o atleta também foi uma figura de extrema importância. Como São Paulo estava cerca pelos estados que apoiavam Vargas, os recursos eram cada vez mais escassos, principalmente na questão do armamento.

Com a falta de fundos para a compra de novas armas e munições, os paulistas arrecadavam ouro na campanha “Ouro pelo bem de São Paulo“. E Fried também tomou parte do movimento. Além de ir As rádios, pedindo o apoio dos paulistas, ele doou todos os troféus e medalhas para o financiamento da batalha.

O Batalhão dos Atletas combateu em Eleutério, distrito de Itapira, próximo da divisa com Minas Gerais. Lá, eles se uniram a outras tropas, mesmo sem terem nenhuma experiência militar. Isso é a prova que o ideal era mais forte que o medo. Segundo o historiador Eric Lucian Apolinário, o front resistiu durante 25 dias aos ataques, antes de precisarem evacuar a área, após um ataque aéreo .

E os times?


Ainda segundo Apolinário, os times de São Paulo também tiveram importância durante a Revolução.

Em entrevista à Folha de São Paulo ele disse que, “os clubes se envolveram na guerra e liberaram seua atletas. O Campeonato Paulista foi interrompido. A adesão de Friedenreich de ânimo para a causa. […] Era no campo da Floresta, antigo estádio do São Paulo, que os exércitos se reuniam. O Corinthians colocou à disposição seu ‘Departamento de Educação Physica’, todas as suas instalações, tanto a sua sede, como sua praça de esporte. O Sírio disponibilizou sua sede para distribuir cartões de mobilização. E o Ipiranga ofereceu seu espaço para a Cruz Vermelha”.

Ainda segundo a matéria da Folha, a  Revolução deixou um marco para o futebol nacional. No ano seguinte, em 1933, “o Campeonato Paulista  se profissionalizou. E os jogadores, que tinham uma imagem marginalizada até então, ganharam mais respeito perante a sociedade”.

Fim da Revolução


A Revolução Constitucionalista de 1932 chegou ao fim em 4 de outubro de 1932. São Paulo perdeu em armas, isso é inegável, porém venceu no ideal. Além de conseguir anistia do governo Federal, fez com que Getúlio Vargas promulgasse uma nova Constituição dois anos depois, em 1934. Esta Constituição valeu até 1988, quando a última foi promulgada e vigente até hoje.

Arthur Friendereich em foto de arquivo Folhapress

Arthur Friendereich em foto de arquivo/Folhapress

“Imiteis meu gesto, inscrevendo-vos na Mobilização Esportiva, a fim de que todos juntos defendamos a causa sagrada do Brasil. Tudo por São Paulo num Brasil Unido!”

– Arthur Friedenreich

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