Quem ainda não tentou tirar uma casquinha da, e será entre enormes e sarcásticas aspas, “geração Belga”? Se ainda não o fez, não fará mais. A campanha que terminou no último sábado (14) alçou esse país, essa linda camisa vermelha e amarela, esse país de extensão territorial pequenina, mas de talento gigantesco, muito mais do que continental. É dono de história que começou na Rússia, com um futebol encantador e muito carisma, ainda repercute.

O resultado belga é impactante para o país na Copa do Mundo. 2018 foi o melhor da história, superando 1986, quando os Red Devils, como são apelidados os jogadores belgas, chegaram até a semifinal. A diferença é a conquista da medalha. A vitória diante da Inglaterra foi motivo de honra e mérito para os selecionados. E não fomos nós que achamos que eles mereciam. A homenagem levou a equipe para o castelo. Literalmente.

O Rei Filipe e a Rainha Matilde receberam os terceiros melhores do mundo em seu castelo, em Laeken, neste domingo, após a campanha história da equipe na Copa do Mundo. O casal real tirou fotos com os jogadores, todos celebraram a conquista e mostraram sua emoção e agradecimento pela dedicação dentro do torneio, superando os fantasmas e elevando o esporte pelo mundo.

Nós, do Linha Esportiva, não nos contentamos com as informações protocolares sobre a celebração de nosso algozes. Fomos para a Bélgica. Ou quase isso. Ana Paula Padovan e Sébastien Geyskens, uma brasileira e um belga. Uum casal de jovens sonhadores que fazem a vida no país dos Red Devils e que são unidos, entre tantas coisas, pelo esporte. Ela, nascida no país que tinha a primazia no futebol, ele, um torcedor sedento pela glória, por ver seu país de tanto talento, brilhar em uma Copa do Mundo.

Ana Paula e Sébastien (Foto: Arquivo Pessoal)

Aconteceu.

Sébastien conta, sobre essa jornada histórica:

Foi muito bom porque foi o melhor resultado. O 3° lugar foi incrível, ainda que quiséssemos o primeiro lugar. É uma geração de ouro, uma das melhores, se é que essa já não é a melhor de todas. Para um pais de 11 milhões de pessoas, não é sempre fácil ter muitos talentos e várias gerações de sucesso”.

E ele tem razão. Em 2002, de lembranças excelentes para nós, a Copa recebeu mais um belíssimo time da Bélgica. Comandada por Wilmots, autor de um gol anulado diante do Brasil e que poderia mudar o rumo daquela eliminatória, a equipe poderia ter ido além e deixou o caminho traçado para que anos depois, provavelmente na última Copa de uma geração que sucedeu aquele time, fosse dado um passo fundamental nessa mudança de patamares.

A vitória contra o Brasil foi o maior feito deles como equipe e também um pouco como uma vingança depois de 2002. É uma vitória que trouxe um sentimento de orgulho pra todo mundo em geral também. Não foi só mais uma vitoria. Todo mundo respeita muito o Brasil aqui e ganhar foi um orgulho para o país“.

Não foi só um discurso midiático dos selecionados belgas nos pré e pós confronto diante da nossa seleção quando todos se mostraram muito respeitosos, gratos e elogiosos com o time e o país que derrotaram, indo na contramão de boa parte do mundo que preferiu abordagens mais confrontantes com a seleção penta campeã. A relação de afeto vem de antes, como relatou Ana Paula, sobre a maneira como o marido enxerga o futebol brasileiro:

O futebol brasileiro ele diz sempre que é o mais bonito. Os jogadores preferidos do Sebastién são os brasileiros. Esse ano, ele acha que faltou mostrar um pouco mais as qualidades do Brasil. Uma curiosidade: aqui, eles falam que o futebol brasileiro é o “futebol samba” porque eles fazem sempre o adversário dançar“.

Uma satisfação para o futebol, certamente, observar esse congraçamento entre duas escolas de futebol em estágios diferentes, mas de talento tão ímpares. O dia foi deles e nós assistimos a tudo, pelos olhos e mãos de nossos entrevistados. Eles viveram a recepção histórica da seleção.

Hoje que eles voltaram para cá, todo mundo viu como eles estavam orgulhosos. Foram milhares de pessoas nas ruas para felicitar os jogadores, eles foram ver o Rei. Enfim, todo mundo estava muito orgulhoso. Mesmo pra mim, como brasileira, eu senti orgulho de morar aqui e ver como eles estavam comemorando com os jogadores e todos juntos fazendo festa“, conta Ana.

E não pretendem parar por aí, a campanha é motivo para imenso orgulho, mas as pretensões são ousadas. Segundo Sebastién, o sonho é conquistar a próxima Eurocopa, afinal a seleção já provou que é possível chegar nessa conquista. O caminho está bem trilhado para isso.

Hoje, dia de final de Copa e de receber os heróis, teve um momento de alguma insatisfação para eles: a vitória francesa. Ana conta que os belgas não são os maiores fãs dos campeões e que o país todo torceu por uma conquista Croata. Mal sabem eles que o Brasil todo, ou quase todo, esteve unido nesta corrente pelos vice-campeões.

Seja como for, seja no terceiro ou primeiro posto do mundo, a Copa do Mundo é isso. Motivo para celebrar. A Bélgica viveu seu conto de fadas, seu momento junto de seu povo. Abriu caminho para sonhos e voos ainda maiores. Que os deuses do futebol se encarreguem de conduzi-los a mais grandes momentos. Aqueles com os quais nós fomos tão habituados um dia e que agora estão do outro lado do mundo.

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