Trilogia é o conjunto de três trabalhos artísticos, geralmente na literatura ou no cinema, que estão conectados e que podem ser apreciados de forma individual. Um momento próprio e único, ou visto como uma sessão de cavalaria romana em que a sequência determina o andamento, as mortes abrem alas para os novos heróis, as cenas são interdependentes.

The Godfather, de Francis Coppola, Back to the Future, de Robert Zemeckis, Jurassic Park, de Spielberg, o Senhor dos Anéis, de Peter Jackson, Star Wars, de George Lucas. Trilogias lendárias que ganharam vida nas telas de cinema e se eternizaram no coração de cada pessoa que se sentiu envolver pela história, pela dor e pela delícia de cada caso. Despertar sentimentos e forjar heróis são inerentes à criação e surgimento de algo tão grandioso que possa ser chamado de teologia.

Nenhuma grande história sobrevive sem drama. Nenhum vilão seria relevante não fosse a necessidade de ser criar heróis. Levantar demônios para exaltar Deuses, uma característica das trilogias gregas, sequência interdependentes de poemas dramáticos que eram levados ao público sempre de forma conjunta. Fazia sofrer para fazer chorar, para fazer emocionar, para fazer história.

LeBron James e Stephen Curry, dois azes que carregam debaixo dos braços, forte e esguio, das tendências bruta e delicada, do dominante e do fascinante, as mesmas necessidades que carregarem consigo o poder e a fraqueza de serem o fronte que busca a glória. Cardam por seu povo, por seu mundo e por sua luta, como um capítulo muito mais do que cinematográfico. É além das trilogias. Coisa de basquete. Um pra cada lado,  anéis para cada mão, troféus pra cada galeria. Muito mais que um ponto final.

O poderoso chefão de Cleveland é o rei. Incontestável em seu jeito torto e apaixonado, não tem concorrentes em sua história. São 8 finais, são 3 anéis por povos distintos, voltou à origem, encarou tabu, uppercut no tal impossível que rondava a cidade, a franquia. Venceu, vendeu sonhos aos seus e buscou à fórceps que tudo se tornasse verdade. Foi campeão, mais uma vez foi James, muito melhor que o Bond.

Esse parágrafo deveria começar com a trilha que George Lucas deu à suas obras. O tom alucinado e disléxico-brilhante que fascinou alguns e revoltou outros. Steph revirou um universo fechado e tradicional que envolveu o basquete. Riu dos padrões, provocou, fez e aconteceu. Levantou público, levantou ira e levantou troféu. Dóis anéis que detém valida sua aventura maluca de inaugurar junto aos seus, um modo carrossel de jogar basquete. O fantástico mundo de Golden State, um verdadeiro lunático.

Cleveland e Golden State, Beatles e Stones, rivais forjados pelas batalhas que o talento propôs a ambos. Porque tão bons e tão diferentes. Em momentos, parecem noite contra dia, parecem Palmeiras contra Corinthians. Aos seus próprios métodos e padrões cuja importância NÃO cabe discussão, só admiração, parecem imparáveis e o são, mas, acima de tudo, parecem, até que se encontrem, viver de rascunhos, de cenas secundárias, de pré filme. Como qualquer uma das trilogias, escondem tudo para o fim, e ainda assim, são sádicos ao ponto de deixarem um pouquinho para a próxima vez, uma quarta vez.

Os saudosistas já devem coçar a mão pensando em como se pode fazer tanta celebração a dois times cujas histórias não abrem a sessão para Celtics v Lakers, Bulls, até Miami. Acalmem-se. Trilogias são celebradas porque não costumam deixam aberta a chance de haver um termo de paz, uma contagem igual, um meio campo. Eles têm fim. Tem ímpar. É ímpar. Acaba. Hoje, é o pós-crédito, é uma canjinha. E, sinceramente, aproveite. O melhor de uma sessão costuma ser sempre comprar a pipoca, mas quando tem cena depois da luz acender..

NBA Finals, mais uma vez.

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