por João Gabriel Falcade

O São Paulo, time brasileiro com a fama de maior peleador em Libertadores, estreou na competição, dentro da sua cidade, ainda que sem seu estádio, mas diante do seu empolgado torcedor, contra um adversário que, ao contrário do brasileiro, carrega uma fama de time frágil quando não está dentro de seus domínios. Era noite de São Paulo vs The Strongest, estádio do Pacaembu, 19h30. Era uma noite pra se esquecer.

Comandado por Edgardo Bauza desde o início desta temporada, os donos do Morumbi vinham fazendo uma campanha um tanto interessante nos jogos do possante estadual paulista, com partidas bem jogadas e resultados razoáveis, um futebol que apresentava (?) evolução tática em relação ao criticado esquadrão que Milton Cruz levava a campo no final do ano que passou. Mas havia algo que passava desapercebido aos elogiosos comentários de análises sobre o SP nesses jogos: o campeonato disputado era o estadual, os adversários eram do estadual, era o nível do estadual. Seria parâmetro para desafios maiores? Não.

O JOGO

Rolou a bola para que jogassem brasileiros e bolivianos, rolou tensão para o bom Rodrigo Caio afobar-se e logo sofrer punição com o cartão amarelo, ainda aos 5 minutos de jogo.  Rolou medo ainda nos dez iniciais quando o The Strongest chegou à trave de Dênis em belo chute de longa distância. Rolou aquele silencio mortal nos segundos em que a bola viajou. Rolou aquela mesma pergunta, ainda antes dos quinze: será que o Paulistão causou uma impressão errada? Rolou certeza.

Vinte minutos de plena improdutividade tricolor até que a equipe renovasse as coisas e, tal qual fazem golfinhos, resolveu aparecer para o público e demonstrar uma certa graça. Com Thiago Mendes e Hudson absolutamente confusos e em más jornadas, Ganso e Centurión tentavam, e apenas isso, algo de maior relevância. Kardec, engessado, e Michel Bastos, demonstrando certo desinteresse, em nada contribuíram. Golfinho. Fim de primeira etapa. Fim do São Paulo.

O jogo é retomado, os ânimos, renovados, ainda que com 5 minutos de validade. Bauza, que nunca é omisso, optou por usar de seu talismã, o eficaz Calleri. Hudson tomou o primeiro banho dos vestiários do Pacaembu. Um 4-2-3-1 que tornou-se um ~diferente~, 4-1-2-3, com Thiago Mendes sozinho na contenção e preso, Ganso e Michel dividindo a armação, Centurión tentando ocupar o flanco direito e Kardec e Calleri ocupando o mesmo lugar no gramado. Não funcionava. As cabeças batiam e os contra ataques surgiam. O perigo era iminente.

Confiante e sem medo do gigante adormecido São Paulo, o mais forte dos times na peleja da noite notou que podia, acreditou no gol até que, em jogada que merece nossas atenções e aplausos, ainda que a zaga paulista tenta aplaudido em pé ao invés de marca-la, chegou às redes de Dênis. E chegou a ira do torcedor que começou a vociferar seu ódio em forma de nome e sobrenome: Ricardo Centurión.

Abraçado por vaias e xingamentos, o argentino deixou as quatro linhas para que o outro talismã, Rogério, homem dos gols decisivos, entrasse e trouxesse consigo um ânimo da massa e um possível fator novo no trancafiado sistema defensivo boliviano. Não à toa os verbos foram aqui escritos na condicional. Seria fator novo, seria o homem do gol. Não foi.

Nervoso, irritado e sem qualidade técnica suficiente, Bauza e cia não encontraram caminhos. Kieza, na vaga do inofensivo Kardec, formando um bizarro 4-2-4, perdeu a única chance paulista no jogo. Cara-a-cara com Vaca, o novo 9 bateu ridiculamente para além dos mais de sete metros. Era o ponto final da história de terror.

AFTER PARTY

Como em todo final de história precisa de um grande feito, dessa vez, ele virá do improvável herói. O Strongest conseguiu sua primeira vitória no Brasil ao longo de sua história, após 13 insucessos. Mais do que isso, conquistou, após TRINTA E CINCO anos, uma vitória fora de casa, da altitude, seu principal jogador.  Zebra, terceira força do quarteto no grupo 2, presa fácil. Vencedor.

O São Paulo termina a partida com um vexame mais do que inesperado. Minutos terríveis de seus bons expoentes, falta de padrão, muita posse e pouca profundidade, uma falta de confiança muito flagrante e um poder de elenco minúsculo. As peças que podem mudar um jogo, nesse São Paulo, não vão além de figurantes, por enquanto. Mais grave, ainda. Peças consagradas que rendem muito aquém do que devem. Michel Bastos é o exemplo mais crasso que podemos te oferecer.

A SEQUÊNCIA

A vida do São Paulo promete ser uma tarefa das mais indigestas. Após esse revés, a equipe enfrenta, APENAS, o atual campeão River Plate, agora com o grande D”Alessandro, no Monumental de Nunez. Qualquer resultado além da derrota merece celebrações no Morumbi. Depois, viaja ao México para encarar o Trijullanos, um jogo em que o dever de vitória vai à máxima potencia. Ou seja, ganhar fora do Brasil é a solução para Bauza e seus comandados. Complicou, mas não impossibilitou.

PALPITE

Otreinador tricolor deve desistir, enfim, de atuar com Centurión e agradar aos pedidos do torcedores. Calleri, ao natural, já é titular. Contestado, Michel Bastos tem sua vaga ameaçada, mas não deve perde-la. A vaga às oitavas deve vir para o São Paulo, mas tudo depende de como o elenco reagirá mentalmente ao momento conturbado e sem sua liderança histórica. Quem assume o comando do grupo? Fica a questão e a torcida por momentos mais emocionantes à irritada torcida tricolor.

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