O jornalismo não está acima da lei. Pelo contrário: existe justamente para fiscalizá-la, fazer com que seja cumprida. E quando o próprio jornalismo ultrapassa todos os limites éticos? Bem, é hora de repensar algumas coisas.

De volta alguns anos no tempo, jornalistas e jogadores se misturavam no campo. Não havia restrições de entrevistas impostas por alguém do clube, não havia proibição de que se entrevistasse um técnico no início da partida, um jogador no intervalo ou mesmo dentro do vestiário após o jogo. Mas isso acabou. Uma barreira, por vezes física mesmo, foi colocada entre os atletas e a imprensa. Não é possível mais entrevistar um jogador a sua escolha, mas sim, a escolha do clube, ou seja, todos os jornalistas possuem exatamente a mesma entrevista. Foi-se o olfato jornalístico.

Quando as redações começaram a ficar mais enxutas, jornalistas que tinham tempo de sobra para produzir matérias especiais, ir ao Centro de Treinamento, e etc, foram obrigados a multiplicar o que já faziam antes. A maior demanda tirou muitos deles da “rua” e fez com que criassem raízes dentro da redação: com um telefone na mão. Foi-se a visão.

O mundo evoluiu: o telefone virou celular, as ligações se transformaram em mensagens de texto, ou áudio, quando necessário. A assessoria de imprensa também se aperfeiçoou. Coletivas de imprensa começaram a ser disponibilizadas na íntegra. Não é mais necessário que o jornalista entre em contato com o jogador, ouça o que ele tem a dizer e prepare uma nova pergunta em cima disso. Não. Está tudo ali, pronto para um processo de decupagem que nem precisa mais do ouvido humano. Foi-se a audição.

Quando um jornal estampa na capa um comunicado dizendo que não mais chamará um atleta pelo seu apelido pelo fato dele “não estar fazendo por merecer”… Foi-se o tato. E a falta de tato é justamente culpa desse processo que minou o contato jornalista-jogador, tirou os profissionais de imprensa da rua, e automatizou a produção de matérias. De repente se esqueceram que, do outro lado, existe um ser humano, que a posição de jornalista não lhe dá o direito de ofender alguém de tal maneira. A humanidade foi esquecida e a empatia passou longe.

Se você consegue engolir esse jornalismo, parabéns. Pra mim, foi-se o paladar.

Alex é tão Muralha quanto a Imprensa é imparcial. Os dois sempre vão ter isso como ideal de vida. Vão ter momentos de sucesso e de fracasso. Hão de saber lidar com cada um deles e dar a volta por cima.

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