O Corinthians começou 2017 desacreditado, após a fraca campanha no Campeonato Brasileiro do ano passado. Sem dinheiro, com poucas contratações de peso, apostando na base e em um técnico também “formado em casa”, o Timão era tido como a “quarta força do futebol paulista” nesse início de temporada. Mas não foi bem assim…

Fábio Carille, discípulo de Tite com o esquema 4-1-4-1,implementou um padrão de jogo bem definido e fez o Corinthians superar a desconfiança de torcida e crítica esportiva. Assim como Adenor, Carille preza pela consistência defensiva e isso fez com que o Corinthians terminasse a primeira fase do Paulistão como a segunda melhor defesa, com apenas 9 gols sofridos em 12 jogos. Méritos para o treinador corintiano também por usar bem a base: Arana, Pedro Henrique, Léo Santos, Léo Príncipe, Maycon, Leo Jabá, Pedrinho… Todos tiveram chances no time de cima e apenas o lateral direito demonstrou vulnerabilidade. Até Caíque recebeu oportunidade na última rodada e foi bem, mostrando-se um possível substituto de Cássio, nessa má fase na qual o goleiro titular do Corinthians atravessa. Some a esses garotos Jadson, Pablo, Rodriguinho, o “leão” Gabriel, Camacho, Jô e até Romero, que começa a ser mais valorizado sob a batuta de Carille e vemos que o elenco do Timão não é de todo ruim, como se dizia no início da temporada. Claro, não é um time para brigar por título brasileiro – o que pode soar estranho para quem foi campeão em 2015 – mas é uma equipe competitiva e que pode beliscar um Campeonato Paulista ou uma Copa do Brasil, ainda mais após o desempenho demonstrado nos “jogos grandes”, especialmente nos clássicos contra Santos e Palmeiras.

Por outro lado, se a defesa vai bem, o ataque não segue a mesma linha. O Corinthians enfrenta dificuldades na criação, especialmente contra equipes menores e que jogam sem a responsabilidade do resultado. Nesses jogos, a falta de qualidade técnica ficou evidente e a movimentação ofensiva não foi boa o suficiente para furar o ferrolho de quem joga apenas para não perder contra os grandes. A construção de jogadas não deveria ser um problema se Jadson estivesse em forma, juntamente com Rodriguinho e Maycon, apostando também na velocidade de Romero ou Leo Jabá, mas o time ainda não se acertou. Por enquanto, o setor ofensivo alvinegro é uma incógnita e o principal problema da equipe. De concreto, apenas que Jô virou especialista em marcar em clássicos. Há também o fator da juventude dos jogadores e, por consequência, a falta de experiência que pode atrapalhar nos momentos decisivos, inclusive com a “torcida da Arena” jogando contra. Mais impaciente do que o público que ia no Pacaembu e exigindo mais de atletas que, muitas vezes, não conseguem entregar mais do que estão dando em campo, esse torcedor nem de longe lembra aquele que apoiava no time até nas derrotas doídas nos tempos de seca de títulos. Quem vai à Arena parece querer ver espetáculo e as conquistas dos últimos anos. Mal acostumados, alguns ainda não parecem perceber que o Corinthians vive novos tempos…

Agora, o Timão enfrenta o Botafogo nas quartas-de-final do Paulistão, num duelo que poderia ser mais perigoso se fosse em jogo único. Com as partidas de ida e volta, é muito difícil imaginar o Corinthians fora das semis, enfrentando algum grande e podendo fazer frente a qualquer um deles. Com uma equipe consistente taticamente, mas que ainda oscila no aspecto técnico, e um elenco inferior ao que o fiel torcedor se acostumou a ver na última década. Um time raçudo, obediente dentro de campo e consciente das suas limitações, resgatando até a essência de Corinthians que ficou perdida nos últimos tempos de glórias.  Com um promissor início de trabalho de Fábio Carille, o Timão deve dar dor de cabeça aos elencos mais caros e mais “badalados” do que ele, em todas as competições.

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