O livro Crônica de uma morte anunciada, escrito por Gabriel García Márquez e publicado em 1981, conta, na forma de uma reconstrução jornalística, o último dia de vida de Santiago Nasar. É a história do assassinato de Santiago Nasar pelos dois irmãos Vicario, sem chance de defesa. No romance, quase todos os habitantes do lugarejo onde vive Santiago, ficam sabendo do homicídio premeditado algumas horas antes (daí o título), mas não fazem nada de concreto para proteger a vítima ou impedir os algozes.

O São Paulo não está no seu último dia de vida, mas a morte é anunciada. E o que é ainda pior: todos os responsáveis sabem da morte, mas não fazem nada de concreto para proteger a vítima, e quando fazem, apenas a ajudam a morrer mais rapidamente.

A diretoria, supostamente a maior interessada em proteger a vítima, não só não evita a tragédia como ainda a acelera. Não bastasse um pacote de questionáveis contratações (Nenê, Valdívia, Trellez), não conseguiram segurar Hernanes, pediram ao treinador que apostasse nos jovens e contrataram medalhões que não faziam parte dos planos de Dorival Junior.

Para piorar, declaram apoiar o treinador numa quinta-feira pós derrota mas colocam a partida de domingo como decisiva. Se não confiam no trabalho do técnico, que o demitissem logo e partissem para alguém que se aproximasse dos planos dos diretores. Mas apoiá-lo hoje e demiti-lo daqui a três dias só mostra que na verdade eles nem sabem o que esperam do treinador, muito menos o que fazer para tentar resolver a situação. O clube apostou em três figuras com grande identificação com a torcida, mas a cada patacoada conseguem apenas mostrar que eles nada mais são do que fantoches nas mãos de incompetentes diretores que os usam para tentar livrar a cara das próprias incompetências.

Dorival Júnior também sabe que a morte é certa, porém, não consegue evita-la. Primeiro disse que apostaria nos jovens, mas após os primeiros insucessos desistiu do projeto e colocou os experientes atletas recém-contratados. O resultado foi uma equipe absurdamente lenta que não consegue incomodar os fraquíssimos adversários do campeonato paulista. Diego Souza, aparentemente a melhor contratação feita em 2018, não encontra seu lugar em campo e começa a ser vaiado pela torcida. Cueva, de bom 2017, tornou-se um jogador inconstante e descompromissado, que em nada ajuda a sair desta situação. Está claro que Dorival Júnior não é o principal problema, mas está longe de ser uma solução.

O caos fora de campo se repete dentro das quatro linhas. Uma equipe perdida, que faz jus ao ditado popular “de boas intenções, o inferno está cheio”. Não se pode acusar os jogadores de falta de vontade, querer derrubar treinador ou nada do tipo. Eles são apenas fracos, estão completamente perdidos e sem confiança e não conseguem jogar nem mesmo no nível de anos anteriores.

E para completar a tragédia, aqueles que deveriam apoiar também não o fazem. Claro que a torcida não consegue assistir tamanha apatia sem mostrar seu descontentamento, mas qual a lógica de ir receber os jogadores em plena madrugada para vaiá-los e gritar o nome de um ex treinador em atividade que conseguiu acumular sucessivos micos em todos os clubes pelos quais passou nos últimos cinco anos?

A morte é cada vez mais certa. Diferentemente do romance, no São Paulo ainda há chance de defesa. A não ser que aqueles que deveriam defender se tornem os assassinos. Aguardemos.

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