Findava-se o século XI. A cristandade estava ameaçada pelas invasões islâmicas na Europa e pelo surgimento de uma divergência religiosa no Império Bizantino. A Igreja Católica, a mando do Papa Urbano II, promovia expedições de combate às heresias que nada mais foram do que sangrentas guerras religiosas. A hegemonia cristã medieval corria riscos e todo esforço precisava ser feito em prol da tradicional igreja romana.

Findava-se o século XX. A Ilha da Madeira via como começava a brilhar um gajo franzino, que após a virada do século começava sua trajetória nos grandes clubes do futebol português no Sporting de Lisboa. Assim como nos tempos medievais, havia o medo de que a transição de séculos fosse o fim dos tempos. Mas o mundo não acabou e Cristiano Ronaldo começava a despontar como um craque. E o sucesso veio, e o reinado também. Cinco bolas de ouro fizeram do português uma unanimidade no mundo do futebol. O reinado, que ainda está em curso, ainda não dá sinais de decadência.

Mas a hegemonia cristã começa a mostrar sinais de ameaça. No tão distante Egito, terra de Faraós, deuses antropozoomórficos e forte influência islâmica, um potencial adversário começa a surgir. Se a Inglaterra guarda os resquícios do antigo Império Egípcio, também desfruta do mais novo candidato a Faraó: Mohamed Salah. O canhoto, que já andara pelas terras da rainha sem pena nem glória, hoje atravessa as faixas de pedestres da terra dos Beatles com a mesma elegância de John, Paul, George e Ringo. Se os quatro revolucionaram a música, chegou a vez de Salah revolucionar o futebol da cidade de Liverpool. E da Europa também, levando os Reds à semifinal (e provavelmente à decisão) da maior competição de clubes do futebol europeu.

Se no século XI as batalhas entre cristãos e árabes tiveram Jerusalém e a Península Ibérica como palco, em 2018 a cidade de Kiev poderá presenciar mais uma batalha memorável. O aparentemente indiscutível rei católico deverá confirmar a sua hegemonia diante do fortíssimo mouro das terras de Faraó. Nas batalhas, mortes, sangue e destruição. Desta vez, a batalha será em campo. Não haverá mortos, e todos poderemos desfrutar de uma grande Jihad em prol dos deuses do futebol.

 

Comentários

comentário