Na última segunda feira (5) foi realizada na sede da CBF, no Rio de Janeiro, a Reunião Arbitral do Campeonato Brasileiro de 2018, que definiu junto aos 20 clubes participantes a tabela e algumas importantes mudanças no regulamento da competição: liberação de gramado sintético para o estádios, autorização da venda de mando de campo e a mais polêmica de todas as decisões: o veto à tecnologia do árbitro de vídeo, o famoso VAR.

Segundo a Confederação que organiza o principal campeonato do país, os custos para arcar com o árbitro de vídeo durante as 38 rodadas do Campeonato Brasileiro seria de R$ 20 milhões. A CBF argumentou que não possui condições de viabilizar sozinha o VAR, sendo necessário que os clubes banquem o custo. Para possibilitar o uso do VAR em 2018, a CBF propôs que cada agremiação pagasse R$ 1 milhão para o campeonato inteiro ou R$ 500 mil só para a utilização no segundo turno.

Em votação, sete clubes se mostraram a favor do VAR (Flamengo, Botafogo, Bahia, Chapecoense, Palmeiras, Grêmio e Internacional), enquanto 12 foram contra (Corinthians, Santos, América-MG, Cruzeiro, Atlético-MG, Atlético-PR, Paraná, Vasco, Fluminense, Sport, Vitória e Ceará). Já o São Paulo se absteve. Assim, por decisão da maioria, o árbitro de vídeo não será usado no Brasileirão de 2018.

O que mais chama a atenção nesse episódio é a falta de vontade e o descaso da CBF em querer melhorar o seu próprio e principal produto de futebol. Em conversas com veículos de imprensa no dia seguinte à Reunião Arbitral, vários dirigentes de clubes presentes ao evento disseram que o VAR foi explicado de forma simplificada e rápida e em exposição oral, sem que fossem exibidos dados da tecnologia mundo afora e expostos detalhadamente como o árbitro de vídeo funciona e os momentos em que pode interferir na partida. Um assunto tão complexo como o uso do árbitro de vídeo em um campeonato teve uma possibilidade de uso jogada na mesa sem uma discussão aprofundada e já foi rapidamente descartada sem ainda uma possibilidade de outra solução.

Outro ponto e talvez o principal é a questão financeira. A CBF arrecada por ano quantias milionárias. Em 2016 o valor foi de R$ 647 milhões, receita recorde da entidade que comanda o futebol brasileiro. Com esse montante, a Confederação aumentou os gastos com a seleção brasileira e o repasse às federações estaduais, sendo que algumas com clubes filiados irrelevantes no cenário nacional, como Piauí e Rondônia, receberam mais de R$ 1 milhão. Questionada pela imprensa de o porquê a CBF não poder bancar o VAR sozinha, o secretário-geral Walter Feldman usou como argumento o estatuto da entidade, que prevê os clubes responsáveis pelo gasto com arbitragem e o árbitro de vídeo se encaixando nesse propósito. Além disso, é de se estranhar o valor total de R$ 20 milhões apresentados pela CBF, já que  países da Europa que utilizam o árbitro de vídeo há um bom tempo o valor é bem mais barato.

No organograma atual do futebol brasileiro, em que a Confederação manda e desmanda e os clubes são subservientes e não tem voz para decidir nada, o caso do VAR é só mais uma prova de que a CBF não está nem um pouco preocupada em ver um Campeonato Brasileiro mais limpo e sem erros de arbitragem. Sem estudar valores que possam diminuir os custos e sem buscar uma alternativa para ajudar os clubes a pagar ou bancar sozinha a tecnologia, já descartando de cara o uso do árbitro de vídeo, fica mais uma vez claro: para a CBF mais importante do que pensar no bem estar de seu principal campeonato nacional é fazer política com as federações estaduais e manter a seleção brasileira sempre forte e vencedora. Uma estrutura de futebol feudal, que já dura anos e não tem perspectiva de mudar em um futuro tão próximo.

 

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