Caro Diego,

Sua carreira se encerra e não posso deixar de dedicar-lhe minhas humildes palavras. Sou uruguaio, da geração que acompanhou os piores anos da seleção, e que teve a honra de ver o ressurgir de uma camisa tão especial e importante. Por isso, muitas foram as alegrias que tive acompanhando sua carreira. Desde que você era apenas uma promessa das categorias de base do Nacional, ouvia falar de um zagueiro que tinha um grande futuro pela frente. Plaza Colonia presenciou seus primeiros passos. Diego Aguirre apostou em você e certamente não se arrependeu.

Você chegou ao São Paulo como “o homem do presidente”. Como isso foi difícil! Um zagueiro desconhecido numa equipe gigante, que ainda disputava títulos todos os anos. Mas com seu carisma, você conquistou a torcida. Foram necessários alguns carrinhos para convencer a todos de que o presidente não tinha se enganado. Mesmo que não esbanjasse técnica, sobrava disposição e entrega, somados a um grande senso de posicionamento e força na bola aérea. Não sou São Paulino, mas acredito que tenho a simpatia que os uruguaios criamos pelo clube.  Por isso vibrei muito a cada gol anulado do Liverpool, a cada defesa do Rogério, a cada bola que era tirada “de punta y para arriba”.

Vieram as temporadas na Europa, e junto com elas, sua chegada à seleção uruguaia. A decepção da eliminação contra a Austrália em 2005 foi rapidamente superada com o início da “Era Tabarez”.  Ele escolheu você para ser o capitão, não poderia ter escolhido melhor. Nós uruguaios até gostamos de lançamentos, canetas e dribles desconcertantes, mas nada nos deixa mais orgulhosos do que alguém que se precisar se joga de cabeça para evitar um gol adversário. Que dá tapa na cara com responsabilidade, que pressiona os adversários e juízes. Ah, a garra charrua… essa sempre esteve presente!

Mesmo fora dos gramados, sua participação foi importante. Além de formar outros líderes, como são hoje Godín e Suárez, você nunca se omitiu dos mandos e desmandos de pessoas que se consideram maiores do que o futebol uruguaio.  E mais unidos do que nunca, conseguiram por fim a uma dinastia podre e perversa, que nos faz olhar para o futuro com esperança.

E vieram os anos dourados! Talvez a Copa do Mundo de 2010 tenha sido ingrata com sua carreira, pois no seu melhor momento técnico as lesões o impediram de ser um destaque. Mas sua liderança e personalidade, somados aos gols de Diego Forlán, nos levaram a um inesquecível quarto lugar. Ainda me vejo chorando e berrando quando o ganês perdeu o pênalti. E no ano seguinte, veio a 15ª! Buenos Aires viu a “celeste del alma” triunfar mais uma vez! Os gols de Luisito, as mãos de Muslera para deixar a Argentina de fora e a garra de todos nos deram outra enorme alegria.

A Europa também conheceu a sua personalidade e catimba. Os turcos aprenderam a admirar, e franceses, espanhóis e suecos puderam ver um pouco desse grande líder que já caminhava para a reta final.

De volta ao São Paulo, a última peleja foi a mais complicada. No meio a uma crise política e institucional, precisava de líderes que não quisessem aparecer mais do que o clube. O clube é gigante, você também foi. A série B foi uma nuvem negra que assolou o São Paulo, mas felizmente foi embora. Junto com ela, sua carreira também chegou ao fim.

Seu português não é perfeito, nem sua técnica era. Mas sua liderança extrapolava as línguas, e sua personalidade superava qualquer deficiência. Mantenha isso, que o seu sucesso como dirigente será o mesmo que teve dentro dos gramados.

Obrigado, Diego, por estes anos em que nós, uruguaios, pudemos nos orgulhar do nosso grande líder.

Hasta siempre, capitán!

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