Com o fim do Carnaval, de acordo com a visão popular, começa efetivamente o novo ano no Brasil. Contudo, o futebol já mostrou a sua cara bem antes da folia. Como teriam sido as notas dos grandes times de São Paulo se competissem nos Desfiles das Escolas de Samba?

Se no quesito “Bateria” são levados em conta a manutenção e sustentação da cadência com o samba-enredo, a “perfeita conjugação de sons” dos instrumentos, a criatividade e a versatilidade, no futebol o meio de campo é o responsável pelo ritmo dos times. Nesse tão decisivo ponto do campo, os quatro grandes de São Paulo ainda buscam a sua perfeita configuração. Palmeiras foi obrigado a mudar a sua merecidamente elogiada dupla de volantes formada por Tche Tche e Moisés. A chegada de Felipe Melo, somada à contusão de Moisés, fizeram com que o time verde precisasse deixar um jogador com mais saída de bola para a entrada de um grande marcador. Apesar da inquestionável qualidade (diretamente proporcional à capacidade de levar cartões absurdos), houve uma alteração tática que está tirando o sono de Eduardo Baptista, que ainda procura o equilíbrio no setor. Michel Bastos, Raphael Veiga, o venezuelano Guerra e até mesmo o ex Chapecoense Hyoran disputam mais duas vagas no time. Pelos lados do Parque São Jorge, Gabriel (não confundam com Maycon) e Filipe Bastos disputam a posição de volante mais recuado. Quando estiverem em plena forma física, Jadson, Marquinhos Gabriel, Rodriguinho e Marlone devem completar o quinteto do meio de campo corinthiano, que ainda tem Guilherme e Giovanni Augusto como opções. No Morumbi, tudo aponta a uma configuração com Jucilei, Thiago Mendes, Cícero e o peruano Cueva, com a possibilidade do Wellington Nem recompor pelo lado esquerdo mudando o esquema para 5 jogadores no meio de campo. Já na Vila Belmiro, Renato é o mestre da bateria santista, ditando os tempos e o jogo do time praiano, que ainda conta com Thiago Maia (de acentuada queda de nível), Vitor Bueno e Lucas Lima na armação. Sem nenhum dos quatro é brilhante, Santos e Palmeiras saem na frente pela qualidade e entrosamento, seguidos pelo São Paulo (ainda em formação) e por último o Corinthians (à espera de que Jadson resolva seus problemas).

No quesito “Samba-Enredo” avaliam-se letra e melodia. Histórias são contadas por meio das letras dos sambas, e nesse ponto, mais uma vez o Corinthians sai em desvantagem, com uma melodia monótona e pouco empolgante. O ritmo corintiano por momentos se aproxima mais do tango portenho do que do samba brasileiro. O enredo santista tem sido prejudicado por algumas lesões, assim como o Palmeirense. A tendência é que ambos construam enredos bastante empolgantes ao longo do ano. Já no São Paulo, as histórias tem sido contadas com boas doses de emoção, que às vezes beira à tragédia.

A harmonia, entrosamento entre ritmo e canto, é o grande déficit tricolor neste inicio de temporada. Após uma série de amistosos nos quais o ataque não funcionava e a defesa não tomava gols, os primeiros jogos oficiais marcaram uma reversão total nesse quadro. Um ataque empolgante e uma defesa sofrível, com falhas constantes e gritantes e uma quantidade inesperada de gols sofridos. Em menor medida, o Santos também tem sofrido com falhas defensivas que levaram a algumas derrotas inesperadas no início do Paulistão. Como atenuante para a equipe está o fato de ainda não ter conseguido fixar uma dupla de zagueiros e um primeiro volante por conta de seguidas contusões. Palmeiras, de maior qualidade, e Corinthians, chato e eficiente, tem apresentado maior harmonia neste começo de campeonato.

Mas se a harmonia tem falhado, não há dúvidas de que o São Paulo tem sido um destaque positivo no quesito “Evolução”. Diferentemente da sonífera equipe de 2016, neste ano o tricolor tem mostrado um time rápido e criativo, com bom toque de bola e facilidade de chegada na área do adversário. O Santos tem potencial para crescer nesse aspecto, pois não há dúvidas da qualidade de Lucas Lima e Victor Bueno na transição entre defesa e ataque, além de laterais que apoiam com qualidade. Palmeiras ainda está em formação, e tem em Dudu sua grande arma para recuar e fazer a bola chegar redonda até o ataque. Já o Corinthians aposta em Jadson e as boas lembranças deixadas no Parque São Jorge para fazer o jogo fluir e gerar chances de gol.

As fantasias são os elementos visuais que mais se destacam dentro de uma escola de samba. Coloridas, brilhantes, alegres, chamam a atenção dos foliões que acompanham o desfile. Talvez seja o quesito em que os grandes times de São Paulo ainda não tenham encontrado o ponto certo. Não há grandes destaques coletivos, jogadas de encher os olhos nem jogadores acima da média que resolvam as partidas sozinhos. Possivelmente com o decorrer da temporada isso possa vir a aparecer, mas até o momento, nenhum time merece nota dez.

As comissões de frente evidenciam que há um time que está visivelmente atrás em relação aos demais. O Corinthians apresenta um ataque nitidamente inferior aos seus grandes rivais. Jô e Kazim são jogadores medianos, que mesmo atingindo rendimentos razoáveis não se comparam a Borja, Pratto ou Ricardo Oliveira. Tanto os estrangeiros quanto o interminável santista tem maior capacidade de decisão, de jogar de costas para o gol e de jogar coletivamente do que os atacantes corintianos. Dudu no Palmeiras, Copete no Santos e Wellington Nem no São Paulo também são mais completos do que Romero, tão esforçado sem a bola quanto confuso com ela.

Por último, temos o mestre-sala e porta bandeira. A elegância, leveza, graça do time passam pelos armadores. Pelo estilo de jogo, o Palmeiras ainda não encontrou essa peça, e mesmo nos títulos do ano passado realizou vários testes e trocou reiteradas vezes o jogador dessa posição. Teoricamente, o venezuelano Guerra foi contratado para acabar com essa indefinição, mas ainda não caiu nas graças do torcedor palestrino. No Corinthians, o mestre sala voltou após uma temporada na China e ainda não estreou no Campeonato Paulista. Capaz de fazer jogos incríveis, com bom chute no gol e longas lacunas, Jadson tentará repetir as atuações de 2015 no time de Parque São Jorge. No Santos, Lucas Lima precisa recuperar o nível que o levou à seleção brasileira, embora seja tecnicamente excelente e consiga tanto criar quanto definir jogadas. A surpresa veio no São Paulo. Contratado sob grande desconfiança, o peruano Cueva tem sido o destaque pelos lados do Morumbi. Veloz, com bom chute, dinâmico e com boas assistências, o pequeno meia é o toque refinado no meio campo tricolor.

Os times estão na avenida. O público se levanta à espera do grande campeão. Portela foi a grande campeã do Carnaval do Rio de Janeiro. Quem será que leva o caneco no Paulistão 2017?

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