A vida de Éderzito Antonio Macedo Lopes nunca foi fácil. Nascido na Guiné-Bissau, mudou-se para Portugal com apenas três anos de idade, em busca de uma vida melhor. Os pais, com condição financeira precária, não conseguiam sustentar o filho e acabaram mandando-o para o Lar Girassol, em Coimbra, uma espécie de orfanato.
Lá, o ainda garoto Éder se adaptou com a nova vida e, mesmo achando difícil de aceitar o aparente “abandono” dos pais, seguiu feliz e esperançoso. Ainda em Coimbra, Éderzito conheceu e se apaixonou pelo futebol. Logo, seu talento com a bola, combinado com sua estatura e força física, chamaram a atenção de times menores. Após boas atuações nas divisões inferiores de Portugal, ele finalmente chamou a atenção da Académica, equipe que disputa a primeira divisão do futebol português. Foi treinado por nomes como Domingos Paciência e André Villas-Boas, que ajudaram o ainda jovem jogador a se tornar uma grande esperança portuguesa no ataque.
Em sua quarta temporada pela equipe de Coimbra, Éder foi campeão da Taça de Portugal e chamou a atenção do Sporting Braga, que estava em ascensão e se classificando para competições europeias à época. A proposta agradou e Éderzito chegou ao Braga para resolver o problema do ataque braguista. E resolveu. Foram 34 gols em 87 jogos, convocações para a seleção e três anos de serviços bem prestados ao clube. Chamou a atenção do Swansea City, time galês que disputa a Premier League, lugar em que o jogador havia dito em que seria um sonho atuar. Não foi.
O ambiente não foi favorável ao jogador, que logo virou reserva. E bem de Bafétimbi Gomis, centroavante francês contratado para ser O cara dos Swans. Éder pouco jogou, e quando entrava em campo, era duramente criticado pela torcida galesa. Em uma temporada, 15 jogos, nenhum gol e muitas comparações com Gomis. “O francês piorado”, diziam alguns mais maldosos. Acabou indo para o Lille, da França. Mais uma vez a ironia presente…
E, como uma premonição ao que viria, o solo francês fez bem ao jogador. Gols e título da Copa da Liga francesa dessa temporada, e mais uma volta por cima na vida de Éderzito. A convocação para a seleção portuguesa que jogaria a Euro foi natural, mas disputar posição com Cristiano Ronaldo era cruel. Por esse motivo, poucos minutos em campo na França, sem chances de brilhar.
Mas ela veio. Como nas melhores histórias que o futebol pode contar, graças a uma lesão do maior craque possivelmente da história do país que o acolheu, Éder entrou em campo aos 33 minutos do segundo tempo regulamentar. Foi colocado para ser o centroavante que Portugal necessitava para as bolas aéreas, função que Nani não conseguira cumprir (a qual nem é a dele também). E fez mais. Segurou a bola com perfeição na frente, deu muito trabalho a Umtiti e Koscielny e foi coroado quando, aos 8 minutos do segundo tempo da prorrogação, Éder recebeu, levou para o pé direito e se encheu de confiança para mandar uma bomba pro gol e vencer Lloris. O gol do título de Portugal, o primeiro da história de um país acostumado a sofrer no futebol.
E um gol bem de Éderzito, a criança imigrante, o garoto sonhador e com condições precárias de sobreviver, o jovem prodígio e o homem responsável pela maior glória de seu país de coração. Uma história espetacular que o futebol é capaz de proporcionar. Obrigado, Éder. Obrigado, Portugal. Vocês nos deram um exemplo de superação hoje.
Fonte da entrevista e vida de Éder: http://www.maisfutebol.iol.pt/entrevista-a-eder-foi-dificil-chegar-onde-cheguei