O jogador Marinho, hoje no Vitória, ficou famoso nacionalmente após a folclórica entrevista do “Que merda, hein?”, ao descobrir que o cartão amarelo que havia levado na partida, ainda enquanto jogava no Ceará, o suspendia para o próximo jogo. Ontem, o atacante deu outra declaração estranha. Desta vez, nada engraçada.

Cruzeiro e Vitória se enfrentavam no Mineirão, em jogo válido pela terceira fase da Copa do Brasil. O jogo estava no segundo tempo e o Cruzeiro já fazia 2 a 0 no placar, abrindo 4 a 1 no agregado, quando Marinho entrou na ponta direita e levou forte trombada no rosto. O árbitro marcou pênalti de Henrique no atacante, que ficou desacordado no gramado. (Assista AQUI ao choque) Os médicos entraram em campo e Marinho não esboçava reação. A preocupação tomou conta de quem estava em volta e o jogador saiu de carrinho-maca de campo, ainda confuso. Do nada, Marinho acordou, levantou, disse para o médico que estava bem e quis voltar pro jogo. A cena foi tão rápida que o técnico Vágner Mancini havia acabado de mandar Thiago Real para o aquecimento e nem reparou que Marinho estava voltando ao campo, elétrico como de costume, aparentemente recuperado.

Poucos minutos após sua volta, ele recebeu dentro da área e diminuiu o prejuízo do Vitória, que ali ainda precisava de 3 gols para se classificar. Esforço em vão, já que o jogo terminou em 2 a 1 a favor da equipe mineira, classificada para a próxima fase da Copa do Brasil. E Marinho não se lembra.

Marinho saindo de maca contra o Cruzeiro: situação era nitidamente preocupante. Foto: Alexandre Guzanshe/E.M/D.A Press

Marinho saindo de maca contra o Cruzeiro: situação era nitidamente preocupante. Foto: Alexandre Guzanshe/E.M/D.A Press

Em entrevista pós-jogo para o Fox Sports, Marinho disse: “Tomei uma pancada forte na cabeça e não lembrei de nada. Fui saber no vestiário que eu tinha feito o gol. Não me lembro nem se comemorei” (AQUI, o vídeo da entrevista). Talvez algumas pessoas achem engraçada uma declaração como essa, até pelo folclore envolvendo o atacante, mas pancadas na cabeça de jogadores de futebol viraram um problema recorrente e já passou da hora de tomarmos medidas mais sérias quanto a isso.

O jogador voltar mentalmente “desligado” após um forte choque na cabeça, é um risco muito grave para a saúde do atleta para o resto da vida. Claro que, dentro de campo e no calor da partida, o atleta não vai pensar – até pelo motivo de estar mentalmente debilitado, inclusive com uma possível concussão – nos riscos e vai querer exercer sua profissão, ainda mais em momentos importantes como no caso de um jogo eliminatório. O caso mais notório mundialmente foi o do alemão Kramer, no qual ele diz que não se lembrar de ter estado em campo na final da Copa do Mundo de 2014, após sofrer um forte choque na cabeça na final entre Alemanha e Argentina. Após aquilo, Fifa e Uefa prometeram ações mais drásticas, mas até agora nada foi concretizado.

O Brasil até tentou fazer medidas para evitar que casos assim ocorram. A CBF divulgou um protocolo pedindo aos clubes que se o jogador passar mais de 2 minutos desacordado, ele não pode voltar acampo. Mas desrespeitar um protocolo é fácil e nosso futebol precisa cuidar mais nesse aspecto e tentar fazer algo semelhante ao que fez a Premier League: colocar um médico contratado pela Federação, sem nenhum envolvimento com os clubes que disputam a partida, para analisar as condições do jogador. É uma proteção ao atleta, necessária em momentos nos quais o jogador faz uma escolha que pode o prejudicar por muito tempo. Os médicos dos clubes não podem exercer tal função, pois são muito pressionados pelo jogador, torcida e diretoria, e, até para proteger o emprego, acabam deixando o atleta voltar a campo, mesmo sabendo que ele não está em boas condições. É um problema grave, recorrente e que precisa de uma solução urgente. Antes que algo mais trágico do que uma amnésia pós-jogo aconteça.

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