“Sei tudo que a cidade passou, que o nordeste de Ohio passou com nossos esportes ao longo dos mais de 50 anos. Você pode voltar na bola que Earnest Byner soltou, Elway indo para 99 jardas, Jose Mesa incapaz de fechar o jogo na nona entrada até os Cavaliers nas finais da NBA em 2007, sendo varrido, e no ano passado perdendo por 4 a 2. Há muitas histórias. Nossos fãs torcem ou morrem, não importa o time ou o esporte. Continuam apoiando. E fomos capazes de acabar com essa espera. Eles mereceram. A conquista é para eles”

LeBron James disse, às lagrimas, essa frase ao final do jogo 7 das finais da NBA vencida por seu time, o Cleveland Cavaliers, por 4 a 3, configurando a maior conquista da história da cidade, da franquia, e dele. O detalhe é que até que chegasse a esse momento de glória, time e heroi passaram por um epopéia digna de filme. Um história com nuances de ódio, de idolatria, do caos à glória. E é ela que você, leitor do Linha Esportiva, vai começar a reviver a partir de agora.

O surgimento da lenda

LeBron Raymone James tem 32 anos de puro basquetebol. Até a noite do ultimo domingo, King James havia vencido a NBA por duas vezes com a camisa do Miami Heat, foi o MVP das finais nas duas conquistas, além de ser o mais valioso jogador durante quatro temporadas regulares. Antes disso, sua formação em St. Vincent lhe concedeu três troféus de destaque jovem e cedeu as credenciais para que o Cleveland, time de sua região natal, Ohio, o selecionasse no Draft de 2003. Alí, nascia a lenda.

James rookie do ano

Em seu primeiro ano como profissional da NBA, King chocou o mundo. Anotou 25 pontos, 9 assistências, 6 rebotes e 4 roubos de bola, números de All Star, com 19 anos, no primeiro jogo. Primeiro jogo. Seguiu regularmente com esse desempenho assombroso e levou o troféu de melhor novato da liga, além de ser o único jovem com media de 20 pontos, ao lado de Michael Jordan. Nas temporadas que se sucederam, LeBron foi soterrando recordes. Jogador mais jovem a anotar um triplo-duplo, o mais jovem a fazer 40 pontos em um jogo, o mais jovem convocado para o All Star Game. E isso tudo sem que seu time sequer disputasse uma fase de playoffs.

Na temporada 2007-08, James já possuia media de 27 pontos por jogo e conduziu os Cavs para os playoffs. De início, venceram a primeira rodada com um sonoro 4 a 0. Na segunda rodada, com media de 25 pontos, King chegou a final de conferência. Diante dos Pistons, os Cavs iniciaram perdendo por 2 a 0, mas com atuações memoráveis de LeBron, viraram a série para 4 a 2. Jogos esses que entraram para a história com o recorde da franquia de 48 pontos que o rei anotou. A glória esbarrou no San Antonio Spurs que levaram o anel.

Em 2008-09 e 09-10, LeBron foi eleito MVP da temporada regular, anotando pontuações extraordinárias, mas sempre esbarrando nos playoffs. Cleveland ainda fez contratações pesadas como Shaq e Mo Willians, mas o título não chagava. James acabou sendo eleito pelo fracasso. No jogo 5 contra o Celtics, em 2010, ele anotou 15 pontos, deixou a quadra vaiado e duramente chamado de amarelão. Ali seria o declínio, o fim trágico. A última partida com a camisa do time. LeBron foi alçado a vilão.

Torcedores dos Cavs queimando a camisa de James

Torcedores dos Cavs queimando a camisa de James

Vida em Miami

A sua saída se deu por opção própria. Tornou-se dono de seu passe contratual, foi disputado por inúmeras franquias, mas assinou com o rico Miami Heat que lhe ofereceu Dwayne Wade e Chris Bosh como parceiros, dois All Stars. Ele aceitou a oferta e aceitou também o apupo público. Sofreu as mais duras críticas que foram possíveis. Bombardeado por sua ex-torcida, teve suas camisas queimadas, teve seu nome alcunhado como traidor e incapaz. De grandes ídolos, como Jordan e Magic, ouviu que foi fraco por trocar o protagonismo que tinha para se “esconder” sob as asas de melhores companheiros de time. Foi intitulado pelo mundo NBA como vilão.

Na temporada 2010-11, chegou com o Heat na final da NBA, mas foi novamente derrotado. Dallas Maverics campeão. LeBron esculhambado por falhar no jogo decisivo, fazendo 3 pontos no terceiro quarto, recebendo alí o apelido de três/quartos, o jogador que falha no final. Além do super conhecido “AmaLeBron” por sempre falhar na hora de conquistar a taça. As críticas já eram um fardo quase insuportável.

Generated by IJG JPEG Library

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Em 11-12, LeBron parecia mudar de postura. Menos irritado e mais concentrado, levou o Miami a mais uma final, agora contra o OKC, mas dessa vez, sendo campeão. Com jogos memoráveis na pós temporada, foi eleito MVP das Finais, conquistou o anel, mas faltava algo que soava mais importante: o respeito do mundo à sua volta. Em 12-13, novamente LeBron foi campeão da NBA. Novamente MVP das Finais, mas, injusta ou justamente, ainda carregava a marca de estar à margem de suas companhias, parecia não provar seu papel de protagonismo, ainda que tenha atuado em níveis espetaculares. Em 13-14, após perder a NBA Finals para o San Antonio Spurs, e ser considerado o motivo da perda, King James tomou uma decisão que mudaria sua vida.

O retorno à glória

Em Janeiro de 2014, LeBron comunicou ao mundo que retornaria à sua casa, queria reescrever sua história, queria eliminar seus fantasmas, queria ser o homem que sempre lhe era cobrado. Ao lado de Kyrie Irving e Kevin Love, tinha a estrutura para ser campeão e tirar a cidade de Cleveland de uma fila de 52 anos sem vitórias nos esportes americanos. E, para isso, colocou uma frase que marcaria sua vida para sempre: “Eu prometo”.

Prometeu aos seus velhos novos fãs que seria campeão da NBA. Na primeira temporada, manteve seus números formidáveis de mais de 25 pontos de média por jogo, reconduziu os Cavs para as grandes campanhas de temporada regular, voltou a equipe aos playoffs. E reagiu muito bem à pós temporada. Venceu a conferencia do Leste, conduzindo seus homens até a final, pelo quarto ano seguido, mas, com as ausências de Love e Irving, ainda que tenha jogado para mais de 30 pontos DE MÉDIA, não foi suficiente, os Cavs esbarraram o sonho de sair da fila, mas LeBron não deixava a decisão com a pecha de vilão, parecia causar aos seus fãs uma confiança que a vitória amadureceria.

De sonho e magia

 Temporada 2015-2016, o Cleveland Cavaliers volta a mais uma jornada em busca do sonho, mas com a estrutura que parecia absolutamente ideal. Seu Big 3 em condições ideais, com novos personagens secundários, como os ótimos JR Smith e Tristan Thompson. Sob o comando de David Blatt. Com a confiança que as coisas estavam sendo conduzidas da melhor forma. E assim aconteceu, ou quase. No meio da temporada regular, LeBron lançou guerra contra o treinador Blatt, um duelo que ele comprou por entender necessário. Foi criticado por isso, mas ouvido. Técnico desmantelado, novato na vaga. Tyronn Lue, campeão como jogador do Lakers, mas rookie como coach, assumia a condução do barco, mas sabia que o comandante era King James.

A temporada seguiu com resultados expressivos, como as 57 vitórias e a média de 27 pontos do Rei. Os playoffs chegaram e a história atinge seu ponto máximo, o bloco final dos grandes filmes. LeBron sumiu do mundo para surgir na glória. Abandonou as redes sociais e focou em si, nos anos que viveu, no mundo que lhe exaltou e criticou, na história que precisaria mudar. Se deu a companhia de filmes, de filhos e de amor. Não era mais hora de valorizar o ódio que lhe era modus operandi até alí. Ele precisava cumprir a promessa que carrega em uma pulseira no braço direito: “eu prometo”.

Pulseira com a frase famosa de LeBron

Pulseira com a frase famosa de LeBron

Playoffs tranquilos e vitoriosos. A final chegaria pela quinta vez para James, pela segunda consecutiva aos Cavs. O rival era o mesmo, o Golden State Warriors, dono da MELHOR CAMPANHA DA HISTÓRIA DA NBA. Do MVP unanime da temporada. Aquele time que soava ser imbatível e fez 2 a 0 nos dois primeiros jogos das finais, atropelando o Cleveland, atropelando LeBron James. O sonho parecia perdido. Parecia.

Chegou o ponto desse texto que os números não significam tanto mais. LeBron James anotou 40 pontos em um jogo, liderou TODOS OS FUNDAMENTOS das finais, venceu 3 jogos consecutivos, dois sendo fora de casa, quebrou o tabu de um time nunca ter virado um 3-1 em finais, quebrou os recordes todos, quebrou o mundo, quebrou com sua casca da amargura. Construiu seu maior legado: o amor.

O choro da glória

O choro da glória

A imagem final do jogo é de King James chorando copiosamente, deitado no chão da Oracle Arena, liberando o peso que carregou ao longo de 13 anos a cada lágrima que escorria por seu rosto. Lue, Irving, Love, Tristan e cia também não continham a emoção, sabiam que sepultavam o maior jejum de Cleveland, que mudavam um povo de patamar, que tornavam realidade um sonho de criança, jovem e idoso. Que entravam para a galeria de heróis. Que fizeram uma das conquistas mais fantásticas da história da NBA. Nessa história toda, o que se guarda de mais valioso é que o amor é combustível da glória, que a promessa conduz o sonho. Ele prometeu, eles foram campeões.

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