por João Rafael Venâncio

Verão de 2000. Bélgica e Holanda sediam a primeira Eurocopa do terceiro milênio. Muita expectativa. Portugal, Inglaterra e Romênia acompanhavam os alemães em um grupo complicadíssimo. Os germânicos, até então, atuais campeões, entraram com a condição de favoritos e uma camisa bem pesada (Soa familiar, não?).

Pois é… a seleção alemã deu fiasco. A eliminação vexatória fez com que algumas coisas mudassem no futebol alemão. Os jogadores parrudos, duros e desengonçados estavam com os dias contados. A filosofia de bolas alçadas incessantemente à área adversária também seria algo que morreria. Porém, mais tarde falamos sobre.

Em 2002, ainda sem a estrutura adequada os alemães foram finalistas da Copa de 2002, mas todos os brasileiros e fãs de futebol sabem como acabou aquele filme. Final feliz para o país tupiniquim e pentacampeonato assegurado. Festa nas ruas brasileiras e os alemães choraram a derrota.

Ainda com uma cultura voltada aos resultados, os alemães chegaram para a Euro 2004 com o peso por serem a Alemanha e por serem vice-campeões do mundo. Novo mico. Sem vitórias na fase de grupos e vice-lanterna de um grupo com Letônia, Holanda e República Tcheca.

Enfim, 2006. Ano em que a Alemanha começara a ter seu brilho, novamente. Sede do Mundial, o país deixou sua chama pelo futebol ainda mais acesa. Arenas desenvolvidas, projetos audaciosos… um recomeço. Logo de cara, os alemães conseguiram a ida às semifinais, na qual foram eliminados pela futura campeã Itália. A renovada seleção já dava sinais de que o projeto era válido. Jovens jogadores habilidosos ocupando grandes posições no elenco, como: Lahm, Schweinsteiger e Podolski. Sim, Lukas Podolski. O alemão, de ascendência polonesa, havia sido eleito o jogador mais promissor daquele Mundial.

Era uma seleção que ganhava calos; ganhava cancha. Nos três ciclos seguintes, mostrou que campeões não vivem só de vitórias. É preciso perder. E com os alemães não foi diferente. A dolorosa derrota para a Espanha, em 2008, na final da Euro, com gol de Fernando Torres e eliminação na Copa do Mundo de 2010, sendo freada pela Espanha, novamente, só que desta vez na semifinal fez com que alguns questionassem o resultado da reformulação.

Porém, como questionar resultados sendo que houve melhoras nítidas no futebol jogado dentro do país, nas equipes e em relação à geração de talentos? É algo muito relativo, mas como o “Torcedor de números” não é levado a sério, os títulos fazem, sim, falta.

Em 2012, a oportunidade perfeita: a Euro chegava e via uma Alemanha jovial, com talentos em alta; nomes experientes e o fino do futebol ia em busca de mais uma taça europeia e o encerramento do jejum.

Na fase de grupos, todo o talento mostrado. Grandes jogos, inclusive uma goleada sobre a Holanda, por 4 a 0. Die Mannschaft mostrava sinais claríssimos de que teria resultados. Porem, tudo foi posto a perder na semifinal, novamente, do torneio. Desta vez, a seleção alemã parou na Itália, em uma noite memorável de Mario Balotelli. O resultado frustrou a todos. A crítica pegou pesado com jogadores e comissão técnica, com razão, diga-se.

2014 chegou e os alemães chegavam como favoritos, mais uma vez. Porém, ouvia-se muito sobre o poder de decisão de seus jogadores, questionava-se o potencial de vencedor de seus atletas. E o final desta história sabemos de cor e salteado. O processo de renovação se coroou com um gol de jogada entre dois jogadores nascidos na Alemanha unificada. Na Alemanha moderna.

A reformulação alemã continua. Nomes como o capitão Philipp Lahm, o artilheiro Miroslav Klose e o zagueiro Mertesacker se retiraram da seleção. Alguns nomes surgem aos poucos. É uma renovação lenta e gradual, que se exige tempo e paciência, nada de diferente que a DFB já venha fazendo.

Nas eliminatórias da Euro, lideraram um grupo com Polônia, Irlanda, Escócia, Geórgia e Gibraltar. Porém, a distância de um ponto para a segunda colocada, Polônia, e as performances não foram as esperadas. A equipe sofre por não ter um lateral direito. Can, desde os tempos de Bayern, é constantemente improvisado, mas não vai bem. A ala esquerda é outro problema, mas que agora deve ser resolvido com Schmelzer. O lateral vem de uma boa temporada pelo Borussia Dortmund e deve tomar conta da posição.

Convocação:

Goleiros: Bernd Leno (Bayer Leverkusen), ter Stegen (Barcelona – ESP) e Manuel Neuer (FC Bayern);

Defensores: Mustafi (Valencia – ESP), Hector (Stuttgart), Höwedes (Schalke 04), Hummels (Borussia Dortmund), Can (Liverpool – ING), Rudy (Hoffenheim), Boateng (FC Bayern) e Rüdiger (Roma – ITA);

Meio-campistas e atacantes: Khedira (Juventus – ITA), Schweinsteiger (Manchester United – ING), Özil (Arsenal – ING), Schürrle (Wolfsburg), Podolski (Galatasaray – TUR), Reus (Borussia Dortmund), Thomas Müller (FC Bayern), Bellarabi (Bayer Leverkusen), Toni Kroos (Real Madrid – ESP), Mario Götze (FC Bayern), Julian Draxler (Wolfsburg), Mario Gómez (Besiktas – TUR), Kimmich (FC Bayern), Leroy Sané (Schalke 04), Julian Brandt (Bayer Leverkusen) e Julian Weigl (Borussia Dortmund).

A grande sacada desta seleção renovada foi a junção de nomes consagrados e jovens talentos. Desta vez, não é diferente. A diferença de bagagem é iportante para o compartilhamento de experiência, para que os atletas tornem-se mais completos. Uma equipe com líderes e jovens querendo aprender. O que credencia, de fato, a Alemanha para chegar na briga pelo título é, justamente, a ambição dos atletas em ter este título. É uma competição muito importante e, no elenco, há jogadores já frustrados e veem na Euro a última chance de título pela Nationalelf.

Por tudo que foi apresentado até aqui, creio que a Alemanha não seja “A” favorita para o troféu, entretanto, está no bolo. Primeiro: por apresentar uma base sólida e é preparada para vencer; segundo: porque tem jogadores de alto nível, com gana de vencer e quebrar um jejum e uma “mancha” na carreira por frustrações anteriores na competição. Terceiro: é a Alemanha. Nunca dá para tirar esse tipo de rótulo dos germânicos.

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