Cinco: o único número da língua portuguesa escrito com o mesmo número de letras do valor que representa. Na origem, nos primórdios da humanidade, estava ligado ao que era concreto. São cinco os dedos das mãos e dos pés, eram cinco pedras que o rei Davi levava para acertar o invencível Golias. Pastores separavam as ovelhas em grupos de cinco. Caçadores contavam seus animais abatidos separando-os em grupos de cinco.

Muitas coisas mudaram em cinco anos.  O papa já não é o mesmo, após a renúncia de Bento XVI. O Brasil já não tem quem escolhera para presidente em 2013. Hugo Chaves, famoso por seu vínculo com as camadas baixas e pela sua dificuldade de lidar com direitos básicos de cidadania não está mais entre nós.  A Copa do Mundo no Brasil já é uma triste lembrança, e os Jogos Olímpicos uma caríssima saudade. O Palmeiras continua sem vencer um mundial, e o abismo entre os clubes sul americanos e europeus não para de aumentar. A Argentina ganhou a Copa Davis, e a ATP já viu três número um do mundo: Nadal, Djokovic e Murray.

Cinco anos se passaram para que Roger Federer voltasse a ser novamente o melhor tenista do ranking. Não o melhor do mundo, porque isso sempre foi (e demorará muito para deixar de sê-lo), mas neste incansável mundo dos números, o número um esperou cinco anos pela volta do número um de todos os tempos.

Federer se torna o tenista a retomar a liderança do ranking com maior distância desde que a perdeu: cinco anos e três meses. Também se torna o tenista de maior idade a ocupar a primeira posição do ranking da ATP. De quebra, o suíço será o jogador com maior tempo entre a primeira e a última vez que assumiu o posto: 14 anos se passaram desde o distante fevereiro de 2004, quando Federer assumira a liderança pela primeira vez na carreira.

O tênis mundial viu nascer novas estrelas, com o crescimento de jogadores como Djokovic e Murray, além de Wawrinka, Raonic, Nishikori e toda a nova geração que busca chegar nos tornozelos de um tal Roger Federer. Muitos acharam que seria impossível o suíço retomar a carreira. Ele nunca desistiu. Mudou o jogo, apostou no saque e na agressividade para encurtar os pontos. Montou calendários com maestria para poupar o físico. Não teve vergonha de abrir mão da temporada de saibro em 2017 para chegar na grama no seu auge de condicionamento. Desistiu dolorosamente da que poderia ter sido sua última olimpíada, e quando todos o davam por morto, voltou melhor do que nunca.

Cinco dedos que empunham a raquete com maestria. Cinco pedras que são capazes de derrubar qualquer gigante aparentemente invencível, ou melhor, tornam Federer o grande Golias do tênis mundial. Para os romanos, cinco é V. V de vitórias, e Eles entendem disso. Roger Federer também. Seja bem-vindo ao seu eterno lugar, grande mestre. Que o mundo possa desfrutar por muitos anos do seu talento e foco para conquistar seus objetivos.

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