Fernando Büttenbender Prass nunca se contentou em ser apenas um goleiro. Não se omite de falar em momentos decisivos e delicados, sendo sempre contundente. Já falou de mala branca no futebol, de como desconcentrar atacantes, de supostos rachas nos elencos e sempre era o que “dava a cara a tapa” na crise dos clubes em que passou, fazendo-o um líder natural especialmente no Vasco e no Palmeiras.
O jogador também gostava de exprimir suas opiniões sobre problemas sociais, como nessa entrevista para o Globoesporte.com: “Ah, gosto de conversar sobre tudo. É claro que o futebol sempre vem muito mais à tona porque as pessoas têm curiosidade. Mas acho que, como as pessoas têm curiosidade em relação ao futebol comigo, eu tenho curiosidade em relação às outras coisas…A situação do país, a parte econômica, a parte social, de educação, essas coisas”. Nesta mesma entrevista, Prass comentou sobre racismo e o machismo presentes no Brasil, e outros problemas político-sociais no país. O goleiro chegou até a ser “flagrado” trajando uma camiseta com o rosto de “Che Guevara” nos seus tempos de Vasco da Gama.
Mas neste domingo o jogador do Palmeiras deu sua declaração mais forte e consciente sobre um problema social. Após a vitória de sua equipe por 2 a 1 contra o Flamengo em Brasília, Fernando foi perguntado por um repórter sua opinião sobre a confusão que ocorreu nas arquibancadas no Arena Mané Garrincha, envolvendo torcedores das duas equipes (não sabe o que ocorreu? Confira aqui). E Prass foi na ferida, perfeito: “Não é o futebol né, é nosso país é que está assim. A gente viu o que aconteceu nessa semana no Rio de Janeiro com a menina e o que aconteceu agora em São Paulo com um garoto de 10 anos. Esse aí é o fim do país. Uma criança de 10 anos ser morta pela polícia, independente da versão, quer ela esteja armada ou não“(Veja a declaração completa no player com a imagem de Prass aqui, a partir dos 50 segundos de vídeo). Uma aula de cidadania e de reflexão sobre os problemas que acontecem no Brasil. Não querendo remediar a consequência, mas procurando a solução pela causa. Acontecimentos como uma criança de 10 anos ter acesso à uma arma, já tendo o conhecimento de como roubar e matar, e uma moça ser gravada nua sem seu consentimento, além de ser agredida enquanto dormia, são inadmissíveis em qualquer circunstância. O arqueiro palmeirense ainda disse isso na saída de campo, com a cabeça ainda ligada num jogo quente como foi a vitória palestrina. Imagina se estivesse frio e com os pensamentos mais estruturados?
Fernando Prass dá um exemplo a jogadores de futebol e usa seu papel social para o bem maior, para uma reflexão da população quanto aos problemas da nossa sociedade. Mesmo que você não concorde com o goleiro, precisa dar o braço a torcer: necessitamos de mais profissionais da bola como ele.