Eu tenho 22 anos, sou recém formado em Jornalismo, faço esse site com mais alguns amigos, trabalho no comércio e jogo ping-pong aos finais de semana. Carrego esse hábito desde molecote, quando brincava com meus pais que tinham uma mesa para jogarem com os amigos. Eu mal atingia a altura para jogar, mas queria brincar, queria ser bom naquilo. Fui evoluindo lenta e apaixonadamente. Joguei intercalasses no colegial, disputei aqueles torneios de intervalo na faculdade, sabe? Era lindo. Hoje, tenho lá minha mesinha na qual pratico o sonho. Hoje, vivi o sonho na pele de outro alguém.

Eram lá pelas 20h de um domingo absolutamente abarrotado de esportes na Rio 2016. Eu circulava pelos canais até encontrar com Hugo Calderano, um mesatenista carioca de 20 anos que vinha escrevendo um conto de fadas na competição, vencendo dois adversários duros e atingindo a terceira fase, aquele jogo que se avizinhava a começar. Um rival oriental, daquele biotipo que carrega implícita a ideia de “esse aí joga demais”. E jogou, mas Hugo materializou o sonho dos vários jovens que, como citei, viveram o sonho de deixar o ping-pong para ser mesatenista. Com uma sinergia mágica de seu sonho, sua técnica impecável e muita vibração, Calderano venceu por 4 a 2 e está nas oitavas de final dos Jogos Olímpicos de sua casa, de sua cidade e de seu país.

A emoção que esse articulista tenta dividir aqui é muito íntima, porque deve atingir muitos de vocês, leitores. Algo que vai além do já histórico cenário que Hugo encontrará agora, com a chance de chegar às quartas de final dos Jogos, igualando a maior marca brasileira, que é do meu ídolo Hugo Hoyama. Algo que representa. Talvez o que sentimos ao ver alguém realizando um sonho que é nosso possa causar um sentimento negativo, de resignação, de inconformidade, ou até inveja. “Porque não sou eu?” “Porque todos conseguem?” “Vou torcer contra”. Mas é aqui que eu insiro nesse conto a parte do título que diz uma palavrinha fundamental, é aqui que entra a magia.

Eu sei bem que você está enjoado de ouvir mil e uma exaltações do famigerado espírito olímpico, mas essa que te direi aqui é mais tangível: vai me dizer que nunca levantou de seu sofá na disputa de uma medalha em algum esporte do qual você mal ouviu falar? Eu sei que você fez isso, meu amigo. Todos fazemos. Mas porque não questionar o fato de ser alguém que não você a conquistar a glória. Porque são os Jogos Olímpicos, porque é o esporte. Hoje, eu e milhões de pessoas jogamos com Calderano, vibramos em cada forehand encaixado, em cada devolução bem feita, em cada ponto. Amanhã tem mais Hugo, tem mais sentimento, tem mais tudo isso, afinal, para nós e, espero, para vocês, esporte é paixão.

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