É engraçado o caminho pelo qual a nossa vida nos leva. Eu nasci em São Paulo, tão pertinho daqui, mas com apenas três anos me mudei pra Salvador. Por que Salvador? Eu também não sei. Meu pai estava com dificuldades de arrumar emprego por aqui, então fomos para lá e montamos um negócio: uma barraca de praia.

Minhas tardes eram de muito sol na Bahia, trabalhando de garçom na barraca ou andando na praia de Ipitanga vendendo óculos de sol com a minha irmã. Em outros dias, ajudava minha mãe a vender cachorro-quente em frente ao Barradão no porta-malas do nosso carro. Mesmo assim, eu sempre fui um apaixonado por futebol.

Desde os cinco anos eu já jogava em escolinhas na cidade, até que aos sete o Vitória me contratou. Eles não tinham uma categoria tão nova e eu jogava com meninos até três anos mais velhos do que eu. Zagueiro? Que nada. Eu era meia de criação, mas minha estatura acabou me recuando para a posição em que jogo hoje.

Quando tinha 12 anos, meu treinador quis fazer um teste comigo na zaga. Eu não gostei e minha família também não, mas uma semana depois eu já tinha me tornado titular e aprendi a apreciar a posição. Na época, o Vitória tinha um jovem zagueiro que já estava despontando nos profissionais. Vendi muito cachorro-quente pra ele, um tal de David Luiz. Até hoje ainda cobro uma camisa dele (risos).

Quando eu tinha 13 anos, a vida resolveu mudar novamente meu caminho. A maré destruiu a barraca dos meus pais. Colocamos para vender, mas antes de conseguirmos, a maré bateu novamente e acabou com tudo. Nessa época, o Vitória passava por uma fase complicada, havia caído para a terceira divisão do Campeonato Brasileiro. Meus pais sabiam que, para prosperar, tinham de se mudar para um grande centro e qual poderia ser melhor do que São Paulo?

Conheci meu empresário nessa época. Ele me perguntou se eu queria fazer testes nos quatro grandes de São Paulo. No mesmo dia um primo meu que morava em Santos me ligou. Era um sinal. Eu, meu pai e meu avô sempre fomos santistas, os únicos em uma família inteira de corintianos. Pedi para fazer um teste aqui. Moramos quatro meses na casa da minha tia no Guarujá até que finalmente fui aprovado para jogar no clube do meu coração.

O Vitória até tentou me segurar, mas eu não podia dizer não ao Santos. Lá teria que morar no alojamento do clube e meus pais nunca pensaram em morar longe de mim. Sempre tive o apoio incondicional deles. Na base do Santos, não teve um jogo, mesmo no interior, que eles não viajaram para me ver jogar.

A primeira vez que eu vesti essa camisa… Não dava pra acreditar. Lembro como se fosse hoje. Era a camisa azul. Jogar aqui é muito especial pra mim. Meu primeiro técnico foi o Lima e eu comecei a jogar com o Neymar. Quando eu cheguei, achei que iria sofrer. Pensava: “no Santos só deve ter craque, não vou conseguir jogar lá”. Mas eu mostrei que podia, sim, e duas semanas depois eu já tinha me tornado titular. Ainda assim, nem tudo foi sempre fácil.

Como eu crescia demais, eu comecei a ficar desengonçado, por causa da minha altura. Eu não percebia, mas todos notavam. Com meu ritmo acelerado de crescimento, eu fiquei muito magro e naturalmente isso me deixava desengonçado. Um técnico que tive queria me mandar embora, mas meu empresário e um diretor conversaram com ele e o convenceram de que eu ainda iria dar alegrias a essa torcida. Fiquei.

Mesmo assim, não havia motivo para comemorar. Eu precisava melhorar. Devo muito à base do Vitória, pois a gente tinha treino de fundamento todos os dias. É ainda jovem que você aprende o fundamental. Então, eu me dediquei: fiz trabalhos de fortalecimento e principalmente de agilidade, que faço até hoje. Sou muito alto e, se não estiver com a agilidade afiada, os baixinhos fazem a festa.

Eu fiz da academia minha segunda casa, assim como tive que fazer nas duas lesões que tive. Aprendi muito com o Edu Dracena, que já passou por quatro cirurgias. É difícil voltar. Para que um joelho operado volte a ter a mesma força do que não foi operado, você precisa trabalhar muito. O Dracena me ajudou muito com isso, me mostrou que era possível. É um dos meus ídolos por essa superação.

No começo eu perdi muitos campeonatos na base e isso me deixava enfurecido. O Santos está acostumado a títulos e eu quero sempre ganhar. Fico puto da vida quando perco alguma coisa, até rachão. Precisava vencer algo. Com 16 anos eu subi para o sub-20. Com 17, ganhei meu primeiro Paulista. Disputei quatro Copinhas e venci duas.

É isso que eu quero: vencer. Tem que ser assim. Quero deixar meu nome gravado na história do Santos.


Esse texto foi publicado pelo Eder Transkini, setorista do site do Diário do Peixe. Acompanhe o trabalho deles e também sigam no Facebook e no Twitter

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