A rivalidade entre Brasil e Argentina virou parte fundamental do folclore esportivo sul americano. Afinal, quando nós não estamos muito bem, nada melhor do que secar os Hermanos para podermos rir da desgraça deles, como se isso aliviasse a nossa dor pelo fracasso. Isso, claro, é recíproco, e teve no hit da Copa do Mundo 2014 “Brasil, decime que se siente”, em que os argentinos lembravam debochadamente da Copa de 1990 e afirmavam que Maradona é maior do que Pelé um dos pontos mais recentes desse histórico embate.

Pois bem, o tênis brasileiro está passando por um momento complicado. Na realidade, tirando a Era Guga e seus incríveis resultados no final da década de 90, custa ao Brasil colocar um simplista entre os melhores do mundo. Não estamos com isso desprezando resultados e carreiras de destaque como Carlos Kirmayr, Jaime Oncins ou Fernando Meligeni, que já estiveram entre os trinta melhores do mundo em simples. Muito menos deixando de exaltar e comemorar os brilhantes mineiros Marcelo Melo e Bruno Soares, com seus respectivos número um do mundo de duplas. Mas a atual geração se acostumou com as derrotas incríveis de Thomaz Bellucci, o maior quase vencedor de todo a história do tênis brasileiros. Acostumamo-nos, ainda, a ficar esperando nascer “um novo Guga”, e cada vitória de Thiago Monteiro, Rogério Dutra Silva, João “Feijão” Souza ou Guilherme Clezar pensar “agora vai”, e invariavelmente ficarmos frustrados quando nada se confirma.

E o que é ainda mais triste: estamos tão afastados do tênis nacional que o Brasil está a uma série de voltar ao Grupo Mundial da Copa Davis (o que seria a primeira divisão do tênis mundial). Entretanto, faltando uma semana para enfrentarmos o Japão sem seus dois melhores simplistas, o fato passa tão despercebido que nem mesmo a lesão de Thomaz Bellucci e as falhas de comunicação entre o capitão da Davis e o atual número um do Brasil, Rogério Dutra Silva, que o tiraram da competição foram noticiadas.

Nesse cenário, o brasileiro que gosta de tênis adotou um novo xodó: Juan Martin Del Potro. O grandalhão de quase dois metros de altura nascido em Tandil, interior da Argentina, apareceu para o tênis mundial em 2008, chegando ao ápice da sua carreira no US Open 2009, quando ficou com o título derrotando Roger Federer numa emocionante decisão. O argentino, que já fora número quatro da ATP em 2010 e 2014, sofreu com sérias contusões nos punhos, que o afastaram das quadras por quase dois anos. Com isso, despencou até um absurdo ranking 618, mas com muita determinação conseguiu dar a volta por cima e voltar aos trinta melhores da ATP.

Dono de uma direita avassaladora e de um potente saque, seus resultados se baseiam muito mais na transpiração do que na inspiração. Não se trata de um tenista que encha os olhos com jogadas de efeito, nem mesmo com golpes plasticamente de encher os olhos. Contudo, Del Potro tem um carisma que ultrapassa qualquer beleza técnica, e uma força de vontade que levam adversários a aplaudi-lo de pé. Determinado, nunca dá um jogo por perdido, mesmo quando está além do seu limite físico. Foi assim na decisão da Copa Davis 2015, quando venceu o croata Marin Cilic em plena Zagreb após sair dois sets abaixo, e ajudou seu país a conquistar a única e sonhada Copa Davis. Também foi marcante a vitória em cima de Novak Djokovic, à época melhor do mundo, na primeira rodada dos Jogos Olímpicos, em num dos primeiros jogos do Del Potro após voltar de contusão. Delpo, como é conhecido no circuito, repetiu o feito nas oitavas de final do US Open deste ano, quando saiu de dois sets a zero abaixo e contra a sua febre que lhe tirava mobilidade cresceu e derrotou Dominic Thiem, um dos tenistas mais promissores da ATP, por três sets a dois. Na sequência, derrotou ninguém mais do que Roger Federer, em plena quadra central, por inapeláveis três sets a um.

Daqui a pouco, Del Potro enfrentará Rafael Nadal, valendo vaga na decisão do US Open 2017. Se o tênis brasileiro não lhe dá um simplista para apoiar, torça para este argentino tão grande quanto sua vontade de vencer. Não espere técnica apurada, mas um coração imenso e a certeza de que ganhando ou perdendo, Delpo deixará tudo em quadra. Então, amigo aficionado pelo tênis, pode ser muito bom torcer para um argentino! Brasil, decime que se siente!

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