Há exatos seis anos, o corintiano tinha a sensação de ser “libertado”. O dia 4 de julho de 2012 ficou “eternamente dentro dos nossos corações” por múltiplos motivos. O mais forte deles, claro, pra conquistar o titulo que mais incomodava o torcedor fiel. Seja pela “zoeira” de não ter passaporte. De ter que aguentar o principal programa de esportes de São Paulo, num primeiro de abril, fazer o Timão levantar a Libertadores. Seja por ser o único título que os rivais tinham e nós não. Seja por aquele frio na barriga a cada vez que enfrentávamos um River Plate, um Palmeiras, um Flamengo e até um Tolima. Era foda, mano. Vocês lembram disso?

Cara, naquele 4 de julho eu tive a felicidade de estar no Tobogã, aquela arquibancada atrás do gol e do túnel mais novo, onde os jogadores vão pro vestiário. Eu tinha ido em 4 dos outros seis jogos em São Paulo, todos naquele lugar. Viajava com meu pai os 330 km de Bauru até a capital paulista, fazendo um bate e volta pra ir às aulas no dia seguinte. Naquela quarta-feira, tudo era tenso e ansioso. Até a hora do jogo.

Nunca tinha visto torcida mais confiante. Nós, do bando de loucos, sabíamos que aquele título não ia escapar mais. Não depois do sofrimento contra o Santos. Não depois de olhar o “Romarinhooo” em La Bombonera. Era nosso, mano, não tinha jeito. E a gente se curtiu demais naquele jogo, cês lembram? Porra, não paramos de cantar um minuto do orgulho de ser corintiano, com a rouquidão na voz de quem sabia que estava presenciando um momento histórico. E veio Sheik. Uma, duas vezes. No segundo gol eu lembro certinho, cara. Quando o Schiavi erra o passe e o Emerson dá a arrancada, lembro da expectativa. Quando a bola encontra a rede e todo mundo se abraça loucamente, garantindo o título, eu não comemorei. Calma, eu tava feliz pra caralho, tava mesmo. Mas eu me lembro de só olhar pro céu, incrédulo de ter a oportunidade de estar ali naquele momento. “Acabou, porra. Acabou, não acredito”, pensava. É, amigos… ali acabou muita coisa. Muitas delas não muito boas.

O Mundial ainda viria, o segundo, em dezembro. Mas depois daquilo, daquele sentimento, daquele grito preso no peito há muito tempo, a gente meio que se perdeu, vocês não acham? Ganhamos uma Arena de presente, um estádio pra chamar de nosso – embora o Pacaembu sempre tenha sido nossa casa. Títulos viraram comuns. Todo ano tem um. A gente ficou mal acostumado, cara. Não parece mais Corinthians.

Vocês tão lembrados daquela eliminação contra o Flamengo? Porra, a gente foi eliminado da Libertadores em casa, em 2011, e aplaudimos nossos jogadores. Em 2006 tomamos de 3 a 0 do Cianorte e no jogo da volta lá estavam uns 25 mil corintianos doidos – incluindo eu – empurrando o time pros 5 a 1 que nos deram a classificação (pra depois o Roger bater aquele pênalti na lua e mandar o Passarela de volta pra Argentina, mas não vem ao caso agora). Eu não vejo mais isso. Não vejo mais “corintianismo” na nossa torcida.

Cara, sofrer era a nossa cara. “Corinthiano, maloqueiro e sofredor”, era o que a gente cantava, lembram disso ou não? Agora é só perder dois jogos que pronto, já tem crise. É só jogar mal por 30 minutos que a torcida VAIA. E vaiar durante o jogo é a coisa mais anti-Corinthians que existe.

A nossa “casa do povo” foi construída com dinheiro público. Suntuosa, luxuosa, muito organizada. Aquilo não é a gente. A gente é tobogã. A gente é espremido. A gente é unidade, remando na mesma direção. Nos afastamos do ser Corinthians, colorido em preto e branco, sem preconceito de cor ou classe social.

Daquele 4 de julho de 2012, só tenho boas lembranças. Meu dia mais feliz enquanto torcedor. Mas confesso, ainda tenho muita saudade do que éramos antes dele. Vai Corinthians! Volta, Corinthians… A ser o que você sempre foi. O Time do Povo.

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