Zagueira do Santos, capitã e musa. Essa é Alline Caladrini. A jogadora de 28 anos das Sereias da Vila é apaixonada por futebol desde pequena e sempre demonstrou desenvoltura com a bola nos pés. Isso porque ela não jogava com as meninas lá em Macapá, onde nasceu… “Eu jogo bola desde os 5 anos de idade e passei infância e adolescência jogando só com meninos. Treinava, ia pra escolinha e tudo. Só com 17 anos que passei a jogar com meninas”, conta Alline.

Com essa idade, a jogadora foi treinar no Juventus e só ali o antigo hobby passou a ser encarado como uma possível profissão. Alline chegou como meio-de-campo e sem receber salários. Foi lá que sua vida mudou. “Eu achava que eu era uma meia e me achava inteligente jogando. Aí na Juventus, a treinadora Magali, pela minha altura, me colocou de zagueira. Me dei muito bem com a posição, sendo uma zagueira mais técnica e adoro”, comenta.

Ela se deu tão bem na nova posição que chamou a atenção do Santos, em 2006, com apenas 18 anos. Lá deslanchou, mesmo encontrando problemas de estrutura. “Naquela época, o Santos ainda não era o que conhecemos hoje. Tínhamos muitas dificuldades, tivemos que ralar bastante”, diz. E ralando muito, ela ajudou o futebol feminino do clube a crescer. Conquistou Campeonatos Paulistas, Liga Nacional, Copa do Brasil e Libertadores, fazendo do Santos uma equipe dominante no futebol feminino por um período. Mas o time feminino do Peixe foi fechado em 2013, mostrando a dura realidade da modalidade no nosso país.

Alline com a camisa do Santos. Foi no Peixe que a carreira da jogadora começou a se consolidar

Alline com a camisa do Santos. Foi no Peixe que a carreira da jogadora se consolidou. Foto: Reprodução/Facebook Alline Calandrini

Até o Alvinegro Praiano, grande campeão no futebol feminino, sofreu com a falta de verba e parou com suas atividades no esporte. Alline comenta sobre isso: “Desde sempre a modalidade é abandonada. A mídia só vem atrás do futebol feminino nos períodos de Mundial e Olimpíadas. Além disso, não temos patrocinadores, pois os empresários pensam que não vão ter visibilidade, já que os jogos dificilmente são transmitidos”. Mas a jogadora ainda tem esperanças de que esse cenário mude: “Eles (os empresários) esquecem da Lei do Incentivo (lei que isenta patrocinadores de clubes de pagar alguns impostos) e que a modalidade é boa e tem potencial pra crescer. A gente fica na esperança de que o pessoal veja isso agora, com as Olimpíadas aqui no Brasil.”, diz, esperançosa.

A zagueira também é considerada musa no time do Santos. E não é de hoje. “Pra ser sincera, sempre tive esse rótulo de musa. Antigamente, eu preferia que me vissem como boa zagueira do que como uma mulher bonita. Mas hoje vejo que esse lado não atrapalha, que esse é um outro lado da modalidade pra tentar quebrar um pouco o preconceito. E, é claro, nosso esporte não é só mostrar corpo ou a gente se exibir. Se em algum momento eu ver que isso me atrapalha na carreira de atleta, vou parar, pois não e um lado que quero abordar”, fala.

Alline é bem ativa nas redes sociais e possui diversos seguidores, que sempre a elogiam também pela beleza. E ela garante: rótulo de musa não atrapalha. Foto: Reprodução/Facebook Alline Calandrini

Alline é bem ativa nas redes sociais e possui diversos seguidores, que sempre a elogiam também pela beleza. E ela garante: rótulo de musa não atrapalha. Foto: Reprodução/Facebook Alline Calandrini

Alline acabou se lesionando há um mês, quando rompeu os ligamentos do joelho. Deve ficar mais cinco meses afastada dos gramados, uma passagem triste e “chata”, segundo ela: “É mais desgastante do que os treinos, muito complicado fazer em dois períodos. Mas se tudo correr bem, em novembro estou de volta”.

E ela, mesmo tendo conquistado tudo que poderia com as Sereias da Vila, ainda tem como sonho ganhar mais títulos com a camisa do Peixe: “Alavancar a modalidade com o Santos Futebol Clube é o principal objetivo. Voltar às glórias dos tempos antigos, mas com o elenco que temos agora, seria espetacular”, comenta a jogadora, que completa deixando em aberto a possibilidade de voltar a vestir a camisa da Seleção Brasileira: “As consequências de um bom trabalho no Santos podem vir. Ainda sonho em disputar um Mundial, que eu ainda não participei como profissional, só pela sub-20. Quem sabe até uma Olimpíada, mas aí já está muito longe e nem sei se vou continuar jogando até lá”, conclui.

Alline ainda conversou conosco sobre machismo no futebol, sua melhor amiga no meio do esporte, a competitividade do futebol feminino no Brasil e muito mais! Confira a entrevista na íntegra abaixo, em áudio!

 

 

 

 

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