Um presságio. Menino acanhado, país solitário na busca pela grandeza. A sustenção para seguir vem do sonho. “Fica calmo, o amanhã já vem”. Cristiano, de sobrenome quase alcunha, de pretensões por mutação, de olhos abertos e percepção que tudo está distante, mas era hora de trocar. Poderiam ser linhas musicais, e são, mas é só a primeira página do livro do melhor do mundo em 2017.

Ronaldo, uma versão incipiente e arrogante de ser o campeão mundial, o primeiro dos moicanos. Portugal ficou pequeno. Não que não seja grande, mas a enormidade de seu futebol extrapolou. Expandiu. Foi muito além. Parecia um príncipe dentre os reis. Ousado, a herança parecia pouco. O grande segredo desta história de heroísmo é que os heróis nascem poderosos. Os reis, conquistam o poder. Ronaldo não tem cacoete para herói, tem obstinação pela guerra, pelo domínio.

Brás Cubas é dos livros mais maravilhosos e tristes da riquíssima literatura brasileira. Tecnicamente brilhante, com inovações narrativas que assombraram o cenário à época de seu lançamento. Fez escola. Previu o futuro estando incapaz de vivê-lo. Ronaldo parece escrever suas memórias de forma consciente, como se quisera garantir pelo próprio punho que sua alma seja lembrada à Cristiano. Sem brechas, sem espaço para improvisos. Puro, intenso e marcante.

Aposto com cada um de vocês que hoje leem essa ode que o nome de um outro homem com superpoderes vem à cabeça como contraponto. Heróis não sobrevivem às ações sádicas do tempo sem que existam motivo para que busquem seguir vivendo. Cristiano teve o seu anti herói que lhe fez ainda maior. Não pensem errado. Essa conta, como bem dizia Brás: “é só juntar, não pode diminuir”.

Cristiano Ronaldo tem números de um extra terrestre, não serão essas memórias carinhosas que irão citá-los. Pouco importam dentro de um contexto tão intenso em que um homem se torna uma bandeira de um país, o sobrenome de uma nação e a marca máxima de um dos clubes mais importantes, ricos e vitoriosos do planeta. Cristiano superou o indivíduo, virou alguma coisa de lenda. Lendas não tem a pretensão de serem perfeitos, mas tem a capacidade de não aceitarem ser qualquer cosia menor do que a própria história.

A caminhada parecia ter feito um capítulo com potencial de encerramento épico no ano passado, mas os fogos de artifício em formato 2-0-1-7 abriam caminho para uma jornada cujo potencial extrapola nossa capacidade de fantasiar. O cinema não daria conta. Ela está em processo, bem aí debaixo dos seus olhos. O final, ninguém sabe e ele não importa absolutamente nada. Ficam as lembranças. O resto, você lerá em alguma memória póstuma por aí.

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