Dizem que a morte é a única certeza que se tem em vida. Que a cada segundo que passa, ela está mais próxima de você, de mim, de todos. Não diria que esse dito macabro esteja incorreto, afinal, ele é real, ainda que o seja na mesma medida em que é escatológico. Monteiro Lobato sabia sê-lo. Não à toa, suas histórias parecem tão reais, mesmo que brinquem com a tal fatal. Sabe o que o tênis tem em comum? Seus personagens são tão literatos que agem de forma semelhante.

Não sejamos levianos de colocar heroísmo em qualquer pé de batalha, em soldados apenas honestos. Tamanha reverência fica para os enormes, para os abençoados pela capacidade de ser além. Para gênios. Lobato dizia que seus heróis só podem ser chamados assim porque tem o poder de não sucumbir às adversidades que a rota da vida coloca pelo caminho. Afinal, havia uma pedra no meio do caminho.

Dimitrov e Stan foram as pedras finais, aquele capítulo mais difícil do jogo, o descompasso que encaminha a morte. Seria muito óbvio que os viventes sucumbissem. Os grandes, não. Não tão rápido, não ainda. NOT YET. Sair de cena é uma tarefa gloriosa, precisa de pompa, de circunstância, de zelo. Ou vocês acham que a marcha fúnebre existe por puro desejo insólito? Não sejam tolos, queridos. É um marco de reverência. É o rito de passagem. O anúncio oficial.

Roger Federer. Rafael Nadal. Ténico. Raça. Mente. Coração. Direita. Esquerda. Frio. Quente. Norte. Sul. Gênio. Gênio. Muita dor. Muito problema. Muita dúvida. Será que podem? A morte chegou? Aposentadoria. Ostracismo. Não. Não tão cedo. Não pros heróis. Há sempre uma página em branco, bem disfarçada, uma Capitu olhando pro Bentinho. Um quero mais. O mundo tem direito de dizer: “mais um”. A morte diz: “ok, eu espero”. Eu desafio a morte, eles dizem.

Olha só, leitor, como você é sortudo. É contemporâneo de duas pessoas que desafiaram o tempo, ignoraram os percalços, deram um chega pra lá no inevitável fim. Cortaram o relógio e arrumaram a seu gosto. Isso é brilhante. Domingo, 6 horas da manhã, teremos um encontro com o impossível. Tocaremos uma história de super herói. É como ver o Superman bem debaixo do seu nariz. Aproveite. Pela 35ª vez, o capítulo decisivo, o duelo quase dos Deuses. Com a bênçãos de Monteiro Lobato e a plateia da morte, o jogo da década vem aí.

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