O Mundial de Atletismo de 2017, encerrado no último domingo em Londres após 10 dias de competições, marca um novo momento no atletismo. Após uma década de domínio nas pistas, Usain Bolt encerrou sua vitoriosa carreira de oito medalhas olímpicas e 14 medalhas em Campeonatos Mundiais com um bronze nos 100m livre e a triste imagem da contusão que marcou a última prova de sua carreira: o revezamento 4 x 100m jamaicano.

Além do adeus de Bolt, o Mundial na capital londrina indicou que o fim de carreira de outras grandes estrelas dos últimos anos do atletismo está próximo, com os resultados sendo inferiores àqueles alcançados ao longo da carreira: o britânico Mo Farah, maior nome dos 5000m e 10000m rasos se despediu das corridas de rua para se dedicar à maratona aos 34 anos; a grande velocista americana Alysson Felix foi ouro no revezamento 4x100m, mas ficou apenas com o bronze nos 400m rasos; recordista mundial do salto com vara, o francês Renaud Lavillenie provou que já não é mais o mesmo e foi apenas bronze; já a espanhola Ruth Beitia, de 38 anos, é a atual campeã olímpica do salto em altura, mas se despediu da competição em Londres com o modesto salto de 1,92m.

Enquanto os velhos conhecidos vão dando adeus ou se aproximando do fim de suas carreiras, o Mundial de Londres também abriu as portas para uma nova geração do atletismo mundial, que aos poucos vão tomando o lugar das atuais estrelas nas Olimpíadas e/ou Mundiais para ser os protagonistas nos próximos anos.

Nos 100m rasos o norte-americano Christian Coleman, de 21 anos, foi segundo colocado, entre os veteranos Justin Gatlin e Usain Bolt, e aparece como novo candidato a estrela mundial. Nos 400m com barreira, Karsten Warholm, norueguês de 21 anos, surpreendeu os favoritos ao levar a medalha de ouro. No salto com vara a venezuelana Robeilys Peinado (21 anos) surpreendeu ao levar o bronze empatado com a veterana cubana Yarisley Silva. E no salto triplo outra venezuelana de 21 anos, Yulimar Rojas, levou o ouro desbancando a campeã mundial e olímpica Caterine Ibarguen.

A “passagem de bastão” presenciada em Londres, com a queda de rendimento de veteranos consagrados e a ascensão de jovens até atingir a maturidade e seu melhor rendimento competindo tem criado um momento de instabilidade e crise técnica no atletismo atualmente. Os tempos e marcas necessárias para atingir a medalha de ouro ficaram longe dos melhores tempos do mundo. Foram apenas dois recordes do campeonato e sete recordes regionais quebrados. Como efeito de comparação dois anos atrás, no Mundial de Pequim, foram cinco recordes do campeonato e 13 recordes regionais, além do recorde mundial do decatlo.

Além da queda no nível competitivo, a troca de gerações levará o atletismo a uma dificuldade de identificação com o público nos próximos eventos globais. Sem Usain Bolt, “o cara” do esporte nos últimos dez anos e responsável por tornar a modalidade conhecida mundo afora com recordes de audiência e de bilheteria, é esperado uma queda de interesse de audiência na procura por ingressos e também pela televisão.

Em meio a um cenário de incertezas, a esperança é que os jovens que animaram a torcida no Mundial de Londres realmente “explodam” nos próximos anos. Assim poderemos encontrar “novos” Bolt, Farah e Felix e continuar a fazer do atletismo uma das modalidades mais tradicionais e empolgantes do esporte mundial.

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