A seleção uruguaia sub 20 encerra o Mundial em 4o lugar, após duas derrotas seguidas nas cobranças de pênaltis. A celeste fecha um campeonato em que começou como favorito com um resultado muito aquém das possibilidades e expectativas criadas.

O CRAQUE: Federico Valverde

Bola de Prata da competição, o volante do Real Madrid mostrou que o futebol uruguaio tem um jogador diferenciado e com um futuro excepcional. Tem um estilo de jogo diferenciado, que em nada lembra os recentes volantes celestes. Não dá pontapés, não perde a bola, faz lançamentos perigosos e finaliza bem de fora da área, além de ter personalidade para pegar a bola e bater pênaltis mesmo após cometer um erro que custou um gol adversário. Com um condicionamento físico muito acima dos companheiros, participou de todos os jogos, incluindo duas prorrogações e três disputas de pênaltis. O Real Madrid já recebeu duas ofertas para transferi-lo mas considera promovê-lo à equipe principal para começar a dar ritmo e experiência junto com os demais campeões europeus. Será um desperdiço quando Tabarez não o convoque para a equipe principal por medo de queimar etapas, pois tem futebol e personalidade para ser titular imediato.

PONTOS POSITIVOS: Solidez defensiva

Foram apenas 3 gols sofridos em 7 jogos disputados, sendo que um deles saiu de uma impecável cobrança de falta (Venezuela) e outro num chute de fora da área no ângulo (2o gol de Portugal). O único gol resultado de erros defensivos foi o português, aos 45 segundos de jogo, após uma saída errada de Valverde e o erro de posicionamento dos zagueiros Rogel e Bueno. Diferentemente do que havia ocorrido no Sul Americano, a defesa mostrou-se sólida, sem erros em bolas aéreas, firme jogando por baixo, com laterais que apoiaram pouco mas marcaram com perfeição e um goleiro que apareceu sempre que foi exigido. Além disso, e um dos maiores legados deste time, Uruguai jogou 6 dos 7 jogos sem um volante unicamente de marcação, apostando em jogadores de boa técnica e qualidade na saída de bola que possam também ajudar na recomposição defensiva.

PONTOS NEGATIVOS: Ataque ineficiente

Foram apenas 7 gols em 7 jogos, um em cobrança de falta e três de pênalti, o que significa que foram apenas 3 gols feitos com a bola em jogo. A equipe uruguaia não conseguiu gerar chances de gol e abusou do direito de perder gols, em especial no 2o tempo da prorrogação contra Portugal, no final do jogo contra Venezuela e na disputa do 3o lugar contra a Itália. Não foi um bom campeonato de Nicolás Schiappacasse, artilheiro do sul americano, assim como foi pífio o torneio de Nicolás De la Cruz e Rodrigo Amaral, que fracassaram na criação de jogo e pecaram nas finalizações, inclusive perdendo pênaltis (tanto em jogo quanto nas decisões).

SEMENTES DE ESPERANÇA: Mele, Rogel, Bueno, Bentancur

Toda grande equipe começa por um grande goleiro. Santiago Mele está aprovadíssimo e se encaminha para ser o sucessor de Fernando Muslera no gol da seleção principal. Tranquilo, não precisa fazer defesas monumentais porque está sempre bem posicionado e se antecipa à jogada. Rápido e preciso para sair do gol, não sofreu nenhum gol de cabeça, o que mostra que treinou esse fundamento após alguns erros no Sul Americano. Com personalidade, não se assustou diante dos cobradores de pênaltis e pegou 3 seguidos contra Portugal. Talvez isso gerou um excesso de confiança que prejudicou os outros jogos, mas ainda é um jogador de 18 anos. Rogel e Bueno consolidaram-se como a dupla ideal para a zaga. Fortes no jogo aéreo, seguros no jogo por baixo e sem complicar-se na saída de bola, dando passes certeiros quando possível e chutão quando necessário. Mantiveram a regularidade durante todo o campeonato e foram destaques do time celeste. Bentancur não foi tão brilhante quando no Sul Americano, mas demonstrou categoria, boa marcação e qualidade na saída de bola. A Juventus fez um baita negócio contratando-o ainda tão jovem e em breve será titular na Itália.

PARA REFLETIR: Há treinamento adequado para as cobranças de pênaltis?

Foram 7 pênaltis perdidos ao longo do Mundial Sub 20. Nicolás de la Cruz perdeu dois, assim como Rodrigo Amaral. Viña, Boselli e Rodriguez completam a lista de falhas. Se isso fosse um fenômeno isolado talvez não seria tão preocupante, mas perder jogos em disputas de pênaltis tem se tornado hábito entre clubes e seleções uruguaias, sem importar categoria ou campeonato disputado. Se o problema não é personalidade (não é típico de uruguaio assustar na hora de decidir), a questão é simples e direta: falta treinamento, há erros básicos de execução e isso só se resolve na base. Não se trata de fechar o olho e bater o mais forte possível, como tem ocorrido frequentemente. Precisar dos pênaltis para avançar de fase tem sido um pesadelo celeste, e o Mundial Sub 20 comprovou mais uma vez esta tese.

SEM HEROIS NEM VILÕES: O curioso (e triste) caso de Rodrigo Amaral

Foi o destaque do Sul Americano conquistado no Equador. Dono de uma técnica acima da média, mas com claros problemas físicos, o jogador se envolveu numa polêmica desnecessária e absurda com sua equipe (Nacional), sendo levado pelo seu empresário (o ex jogador Daniel Fonseca) para uma preparação específica sem autorização do seu treinador nem da diretoria. O treinador decidiu que o jogador não faria mais parte dos planos da equipe, e foi (corretamente) respaldado pela diretoria na sua decisão. Resultado: Amaral não disputou um minuto oficial entre fevereiro e maio, a preparação física não rendeu frutos, faltou ritmo de jogo e ele participou pouco e mal do Mundial. Sim, ele fez um golaço na estreia, mas não conseguiu manter o ritmo e desperdiçou dos pênaltis (contra Portugal e Itália). Na conta do técnico Fabián Coito fica o fato dele não ter entrado no jogo contra Venezuela, mas fica claro que a preparação do jogador foi totalmente inadequada e que só foi convocado porque é tecnicamente diferenciado. Não foi o culpado das derrotas, mas está longe de ser o mártir que tentou ser ao retuitar um post em que se questionava sua ausência na semifinal contra Venezuela. Tem bola para ser craque, mas está indo num caminho (sem volta) de ficar para trás por más escolhas pessoais e profissionais.

Para acompanhar mais sobre o futebol uruguaio, acesse: https://futebolcharruablog.wordpress.com/

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