Quando Pep Guardiola surgiu para o mundo do futebol comandando o Barcelona, em 2008, uma característica ficou marcante no estilo do time  catalão: o percentual alto de posse de bola por jogo. Tirar a pelota do Barcelona era um pesadelo. Messi, Xavi e Iniesta iam tabelando até a cara do gol, no estilo conhecido como “tiki taka” e que consagrou primeiro o time espanhol de Guardiola, e posteriormente, a seleção espanhola campeã da Copa de 2010 na África do Sul.

O sucesso do modelo de jogo proposto pelo Barcelona fez com que a posse de bola, a troca de passes e o controle do jogo fosse visto por técnicos, jornalistas e torcedores como a maneira ideal para um time alcançar sucesso no futebol. Várias equipes, de diferentes partes do mundo, passaram a ter o “tiki taka” do Barcelona de Guardiola como referência e buscaram uma maneira de jogar parecida, priorizando o jogo com a troca de passes sem o lançamento longo e o controle das ações do adversário. Muricy Ramalho foi um dos que tentou adotar um estilo de maior posse de bola no Santos, após a goleada por 4 a 0 sofrida contra o Barcelona na Final do Mundial de Clubes em 2011.

Entretanto, menos de dez anos após a ascensão de Guardiola como treinador e a consolidação do “tiki taka”, uma outra maneira de jogar futebol começa a fazer sucesso: ter menor posse de bola que o adversário durante as partidas e aproveitar as chances criadas para vencer a partida. Times com essa característica têm defesas sólidas, que esperam os adversários bem postados atrás do meio campo, recuperam a bola e saem rápido no contra-ataque, na maioria das vezes aproveitando que o adversário está exposto enquanto busca o ataque. São times muito verticais e que executam suas jogadas rapidamente. Por isso os baixos índices de posse de bola presentes nas estatísticas pós-jogo.

Um exemplo de times como esse é o atual campeão inglês Leicester. Os Foxes sempre tinham menos posse de bola que seus adversários (em torno de 30%), mas aproveitaram a solidez defensiva, o contra-ataque rápido por ser um time muito vertical e as bolas paradas para vencer as partidas e conseguir o inédito título, mesmo sendo um elenco inferior a gigantes ingleses como Arsenal, Chelsea, Manchester City e Manchester United.

Entretanto, não são só os times limitados que apostam nessa estratégia. Atual líder da Premier League, o Chelsea já alternou jogos com mais e menos posse de bola do que o adversário. Quando está em vantagem no placar, os Blues recuam a marcação para o campo defensivo e entregam a bola para o adversário, que muitas vezes troca passes de forma estéril, sem ameaçar o goleiro belga Courtouis. Essa situação inclusive já aconteceu no Estádio de Stanford Bridge,  casa do Chelsea. Já na semifinal da Copa da Inglaterra, contra o Tottenham, os Spurs tiveram maior posse de bola e domínio do jogo, mas os Blues venceram por 4 a 2 e foram à decisão.

No Brasil, um time que também tem tido mais sucesso quando tem menos a bola é o Corinthians. O time dirigido por Fábio Carille teve melhores resultados contra equipes com propostas de controle do jogo e posse de bola, como Palmeiras e São Paulo, sofrendo para construir o placar quando encontra adversários inferiores tecnicamente e que também adotam essa estratégia, obrigando o Timão a mudar sua característica de jogo e ter mais a posse de bola para buscar o ataque e vencer as partidas. Essas situações ocorrem, por exemplo, no Paulistão contra as equipes do interior.

O sucesso de times que jogam sem a bola não significa, porém, que as equipes deixaram de buscar a posse de bola como modelo de jogo atualmente. Rogério Ceni chegou com esse discurso no São Paulo e a cada partida enaltece a quantidade de tempo em que o Tricolor controlou o jogo com a bola no pé, mesmo nas derrotas. Roger Machado tinha essa filosofia até o ano passado no Grêmio e agora também tenta implementá-la no Atlético Mineiro, deixando para trás o estilo “Galo Doido” de Cuca, Levir Culpi e Marcelo Oliveira. A seleção brasileira de Tite, invicta e com 100% de aproveitamento, vem encantando o mundo com um jogo plástico, que tem altos índices de posse de bola também.

Por essas e outras é que o futebol é tão apaixonante. A partir de diferentes estratégias, como marcação alta ou no campo de defesa, bolas paradas, toques curtos ou lançamentos longos e diferentes esquemas táticos é possível chegar às vitórias e aos títulos. A posse de bola é mais um detalhe nessa combinação. E, atualmente, quem passa mais tempo sem tocá-la está descobrindo o caminho para driblar as adversidades e encontrar o caminho do gol.

 

 

 

 

 

 

 

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