Em 1926, quatro anos antes da primeira Copa do Mundo, Milão foi brindado com a ópera Turandot. Ela foi a última de Giacomo Puccini, um dos grandes nomes da cultura erudita. Tal qual fora a última, ela também viu-se interminada, tendo em vista o falecimento do compositor dois anos antes de sua estreia.

Turandot é dividida em três atos e conta a história da Princesa Turandot, filha do Imperador Altum da China, que odeia todos os homens, e jura que jamais se entregará a nenhum deles.

Em seu terceiro ato, a ária Nessum Dorma é entoada pelas mais belas vozes. O significado de Nessum Dorma é “Que ninguém durma”. E muito provavelmente a cena se repetirá por toda a Itália.

Assim como acontecera na estreia de Turandot, quis o destino que Milão, capital italiana, fosse palco da decisão. Guardi le stelle // Che tremano d’amore //E di speranzaOlhas as estrelas, que tremulam de amor e de esperança!

Essa era o cenário apresentado, onde mais de 70 mil corações pulsavam pela Azzurra. Mas em campo pouco se viu durante o primeiro tempo. Mais polêmicas do que chances reais de gol.

A Itália assustou principalmente com Immobile. O lance mais agudo aconteceu após lançamento de Jorginho, brasileiro. A bola passou pelo goleiro, mas Lustig cortou a tempo. Pelo lado amarelo,  o lance mais perigoso aconteceu pelos pés de Berg, que parou na boa defesa de Buffon.

A maior polêmica da primeira metade envolveu Barzagli. Ma il mio mistero e chiuso in me // Il nome mio nessun saprà! Mas o meu mistério está fechado comigo e meu nome ninguém saberá! O zagueiro levou o braço até a bola, após lance de Forsberg, mas o juiz nada assinalou.

Nella tua fredda stanza // Guardi le stelle. Na tua fria alcova, olhas as estrelas. Pouco mais de 45 minutos para o fim e o torcedor não sabia o que esperar. A esperança sempre esteve ali, mas faltava o principal para o italiano, o gol.

E ele não veio. A Itália apresentou volume maior de jogo, mas todas as chances criadas não resultaram em nada. O voleio de Florenzi passou perto, mas foi para fora. Ele também foi o responsável por carimbar o travessão após um cruzamento que desviou na zaga sueca. Olsen, goleiro da Suécia, ainda foi o responsável por segurar as boas chances de Parolo, de cabeça e El Shaarawy.

A última boa chance do jogo também foi italiana. Já no desespero, com Buffon na área, buscando a redenção italiana, Jorginho acertou um belo chute, mas a bola passou ao lado do alvo.

Essa é a terceira vez que a Itália fica fora de um mundial. O feito não acontecia desde a Copa de 1958, disputada justamente da Suécia, algoz de hoje. O mais triste de tudo é que, muito provavelmente, tenhamos visto a última partida de Buffon com a camisa da Seleção.

O goleiro de 39 anos já havia dito que pararia após o mundial. Com a chance jogada pela janela, o time comandado fraco Gian Piero Ventura encurta um pouco a consagrada carreira do atleta, campeão mundial em 2006, que não chegará até a sua sexta Copa do Mundo.

Quando a Itália mais precisava ser Itália, ela acabou sendo Itália. Buffon merecia estar na Rússia, ao contrário de seus companheiros de squadra.

Tramontate, stelle! // All’alba vincerò! Desapareçam, estrelas! Ao alvorecer eu vencerei! Daremos tempo ao tempo para ver o que o mesmo reserva para a Seleção Italiana. A única certeza, por hora, é que Copa da Rússia, somente pela TV.

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