Já virou rotina para os torcedores do Liverpool e aficionados pela Premier League assistir aos Reds sofrendo contra os times pequenos do campeonato Inglês e jogando melhor que os “gigantes” da competição. Hoje, o espírito de “Robin Hood” – aquele que tira dos”ricos” para dar aos “pobres” – esteve mais uma vez presente em Anfield, no baile do Liverpool contra o Arsenal, especialmente na primeira etapa. A equipe abriu dois a zero, com gols de Firmino e Mané e poderia ter feito pelo menos mais dos gols nos primeiros 45 minutos. No segundo tempo o Arsenal diminuiu com Welbeck, mas não conseguiu dominar a partida. No final, ainda levou o terceiro, marcado por Wijnaldum. Uma atuação impressionante para um time que havia levado de três do Leicester, então desesperado e numa sequência de cinco jogos sem vencer.

Para se ter uma ideia, o Liverpool fez nove jogos contra os outros cinco dos seis primeiros colocados da Premier League na temporada 2016/2017 (City, United, Chelsea, Arsenal e Tottenham, sendo o outro o próprio Liverpool). Venceu cinco e empatou quatro partidas. Já contra os últimos seis colocados, foram 19 pontos para os Reds, em 30 possíveis até agora, deixando escapar 11 pontos contra os adversários teoricamente mais fáceis na tabela. O aproveitamento da equipe de Merseyside contra os grandes é de campeão, enquanto contra os pequenos é de um time de meio de tabela. E existem alguns motivos para explicar esse desempenho tão discrepante contra equipes de níveis técnicos muito diferentes.

Primeiro, o Liverpool é uma equipe que se dá muito bem pressionando a saída de bola adversária – característica do técnico Klopp. Mané, Coutinho, Wijnaldum e, especialmente, Firmino e Lallana, são especialistas em roubadas de bola na metade ofensiva do gramado, ocasionando jogadas de gol de perigo. Há duas rodadas, nos dois a zero contra o Tottenham, por exemplo, essa tática foi muito bem utilizada, com os zagueiros Dier e Alderweireld tendo muitas dificuldades de tocar a bola na defesa dos Spurs. Essa tática, porém, não funciona com as equipes de menor expressão, simplesmente porque elas não querem a posse de bola. Quando pressionados, os zagueiros rifam a bola para o campo de ataque, forçando o Liverpool a reestruturar o time e começar do zero sua nova jogada de ataque. E aí vem outro problema para os Reds: a ineficiência em atacar equipes mais fechadas.

A característica do trio ofensivo do Liverpool é de muita movimentação, atacando o espaço vazio. Contra uma equipe mais fechada, que coloca ao menos nove jogadores atrás da linha da bola, é muito mais difícil enfiar uma bola em profundidade para a correria do Mané ou para uma finalização do Firmino. Propor o jogo é muito mais difícil para o Liverpool do que para qualquer outra equipe no top 6 da tabela. Derrotas contra Burnley e Swansea mostram isso, com os Reds tendo mais de 65% de posse de bola e saindo derrotado de campo.  Além do estilo de jogo desfavorável para furar o ferrolho, some o fato de que há uma obrigação de vencer os pequenos bem maior do que contra os grandes, e o jovem elenco do Liverpool ainda não pareceu assimilar a responsabilidade. A bola queima, a defesa falha, os atacantes perdem gols… contra o Bournemouth, no Vitality Stadium, a equipe vencia por 3 a 1 e levou a virada. Parou em campo quando se viu acuada por uma esquadra muito inferior tecnicamente, mas com menos medo de perder e mais vontade de ganhar.

Por fim, o elenco com opções reduzidas para o técnico Jürgen Klopp prejudica quando há uma ausência por lesão ou convocação para seleções. Na falta de Mané, por exemplo, quando o atacante foi jogar a Copa Africana de Nações, o Liverpool encarou uma sequência de três derrotas seguidas em Anfield. Quando Matip foi impedido de jogar pela Federação Inglesa, o Liverpool sofreu para achar seu substituto, sempre sofrendo gols mesmo em partidas mais tranquilas. Os substitutos não rendem o esperado para um grande e rico time como o Liverpool: o sempre lesionado Sturridge fez apenas uma boa partida, quando decidiu contra o Everton. Origi ainda é jovem e extremamente inconstante. Emre Can faz sua pior temporada desde que chegou aos Reds. Alberto Moreno já se mostrou impossível de jogar na lateral esquerda, tanto que Klopp improvisa Milner do lado do campo e coloca o espanhol apenas como um ala (isso quando coloca). Lucas improvisado na defesa dá calafrios no torcedor. O pior é que Klopp nem pode reclamar, pois foi dele a escolha de não contratar ninguém na janela de inverno (verão no Brasil). Agora, o Liverpool sofre com reposições e tem o rendimento prejudicado.

Na próxima rodada, o Liverpool encara mais uma vez um pequeno: o Burnley, no Anfield. E a promessa é de Robin Hood estar de novo presente na Terra dos Beatles.

 

Comentários

comentário