Domingo chega com as cargas de emoção explodindo o sentimento diário de um mundo de apaixonados e carrega, pela sombra, toda a sensação prévia do dia depois. Medo, ansiedade, euforia ou absoluto desespero. Será um dia 14, mas há coisas muito maiores que uma simples dor de futebol nessa segunda-feira tão sombria.

Foi chamado de liberdade, do dia em que um povo viu a luz de um futuro longe dos traumas e do desamparo ao qual foram algemados, ainda que literalmente nas mesma proporções, suas almas e suas esperanças. Seria um novo, seria um recomeço, seria uma grande comoção que fez desse evento, uma verdade convencionada e interessante ao poder. O dia 14 de Maio de 1888 é um câncer cuja metástase floresce até agora, até hoje, até o seu dia que amanhece.

Maneiras de incluir, de inserir, de encaixar, uma forma de dar vida às almas viventes em corpos desesperados por algum amparo. Nada. Nenhuma mão estendida. Milhões de libertados à própria sorte e ao azar de um destino sem perspectiva. A tal abolição. De quê mesmo? De um branco, de um alguém que, pelas ocasiões improváveis da vida se viu na necessidade de colocar tinta sobre papel sem sequer saber o que significaria tal passa-tempo. Era praxe nesse mundo: o poder “diz ao povo que”, ao povo que as ordens chegam e as condições..

Condições que tornaram um país independente através de um estrangeiro. Nada tão patriótico. Brasileiramente feito. Coitada de Isabel, um resultado ilustre (e tresloucado) de anos, de sangue e de luta de negros abolicionistas que tanto fizeram para esse cume de glória. Ou abandono. O dia que nunca acabou e nunca acabará, nos mortos cujo sangue é suor de esforço, de luta e de busca. Da lembrança que os camburões que rasgam os morros do país levando inocência indecente embora são um restilho, ainda podre, dos senhores dos mares que tanto mataram por aí.

Entendem? Há muito além. Não de hoje há tanta “irresibilidade” diante do errado, do indecente, do não correto. Do antiético, do anti-jogo. Das ações premeditas, calculadas, mal intencionadas, mal apitadas. Mau caráter. Há mártir por todo ano que se conta por linhas, relatos ou lágrima. Se ontem aconteceu da pior forma, pode hoje ser diferente. Se morreram tantos em busca de algo, de carregar nos braços o desejo incessável pelo bem, não há porque se fazer guerra em dia desse que foi, tantas vezes, o celeiro pra esse povo se fazer especial, se fazer O Rei.

Aos negros, nesse dia tão intenso e representativo, façam do futebol o que há de melhor, apenas um jogo e um enorme exemplo de tolerância, respeito, resistência e força.

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