Desenho animado dos anos do meu pai, seja lá quantos já se somem desde seu início! Isso pouco convém. Bobby foi um garoto métrico, tal qual uma boa poesia camoniana. Cartesiano, literal, mas um inequívoco pescador de fantasias, de divagações sobre o mundo. O mundo que era propriedade privada. De um individualismo invejável.

No mundo do saudoso personagem, há um time de futebol dos sonhos, aquele em que jogadores rasgam o peito do centro para as pontas, morfando em super homens. No time de Bobby, não há derrota, só há magia. Tudo se resolve de alguma forma, mesmo que as bases naturais não sejam elevadas a máxima potência. Um dado de imprevisibilidade tomaria frente de tudo em consonância aos seus interesses milagreiros e românticos.

Coisa de moleque. Coisa de menino. Coisa de crônica de Nelson Rodrigues e de Mário Filho. Realidades até certo ponto distorcidas. Histórias brilhantes que precisam enxergar, em algum momento, que a realidade bateu a sua porta.

No caso deste texto, a porta fica na cidade de Barcelona, no Centro de Treinamento Tito Villanova, na sala de Luís Enrique, na cabeça de Lionel Messi e principalmente no mundo mágico de cada torcedor do Barcelona. Por mais que sejam “mais que um clube”, eles ainda são tangíveis. Ainda que se finjam cegos a isso. A diferença é que Bobby era metalinguagem. Barça é meta de ponto final.

Minha mãe nunca hesitou em tirar uma ondinha quando ouvia algum impropério da fantasia desse interlocutor usando o desenhinho como exemplo: “ah, Bobby”. Individualista, o Barcelona se perde como eu, como ele. Se enlaça pelo próprio mundo fantástico de cada atleta que ignora seu companheiro ao lado, sente seu super poder, é infantil como produto de televisão sub-adolescência. No mundo real, o que Bobby não vê, o Superman é atropelado, chutado e mal sabe onde está.

A realidade tem uma raça insana, um descontrole que engole o mundo fantástico e individualista que os fantásticos fantasiam. Um caminhão desgovernado rumo ao sucesso. O PSG foi solidário, assumiu problemas e procurou soluções em si mesmo. Não fantasiou que as coisas se solucionariam por si. Não perguntou ao pai, como Bobby, como faz pra nada acontecer de ruim. Agiu.

O Barcelona é um conto de fadas de Lobato, único como Camões, mas como os poemas, precisa ter fim. Existe limite na fantasia. Bobby não resistiu como sucesso. O PSG foi literalmente Real. Os campeões de tudo, se viam atropelados, mas julgavam ser questão de virar a página, ver uma gravura nova e tudo estaria bem. Era fim de livro. Foi criptonita. Está morto o fantástico mundo em que o Barcelona da magia é imbatível. Ou muda, ou morre.

 

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