Permita-me, leitor do LINHA ESPORTIVA, não falar de futebol neste sábado de Carnaval. Quero falar sobre a efemeridade da vida.

Dormi mal. Uma noite mal dormida é algo irrecuperável, como um Natal ou um aniversário – não gosto de aniversários – em que as coisas não correm bem. Passe o tempo que passar, outros virão, mas aquele foi infeliz e nada que seja feito mudará isso.

A noite de sono perturbado foi o prenúncio de uma notícia ruim. Um dos meus melhores amigos perdeu o pai após um tratamento contra um câncer no timo. Ele estava se recuperando bem, tanto que eu não via urgência em fazer a visita que havia prometido e a protelei algumas vezes.

A visita nunca mais será possível, como a noite que perdi ou o Natal que eu gostaria de esquecer.

A vida é curta demais para que adiemos, posterguemos. O arrependimento, porém, pode durar muito. Na relatividade da existência, o remorso sim é longevo, perene, é mais longo do que gostaríamos que fosse.

Proponho aos amigos uma reflexão. Quanto perdemos por alimentar a mágoa após um desentendimento que, depois de tanto tempo, nem mais sabemos ao certo por que aconteceu? Quantos olhares fixos na direção do nada foram dados enquanto a musculatura tesa indicava uma ira que, hoje, não teríamos sentido? Amor e ódio são da mesma espécie e só vivem se forem alimentados. Se é assim, por que escolhemos manter o que nos faz mal?

Isso serve também quando torcemos. Procuramos razão pelo fracasso dos que ostentam nossas cores simplesmente porque não queremos reconhecer o mérito do adversário, que nada mais é do que isso: um oponente. É alguém que, se estivesse com nosso escudo ao peito, aplaudiríamos e renderíamos juras de amor eterno.

Que vejamos a vida com mais leveza. Com menos cobranças. Que percebamos que a tristeza de hoje é a pavimentação de uma caminho seguro e concreto para a alegria de outro dia. Que saibamos que ela, a vida, passa a despeito das nossas vontades e necessidades e, quando notarmos, teremos marcas de expressão que nos farão lembrar de como elas foram conquistadas, pois não estarão lá por acaso.

Que a vida seja leve, e que o remorso de não ter ido visitar o velho e querido Abraão nunca me deixe esquecer de que o tempo não depende de nós para passar.

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