Poderíamos escolher a abordagem deste texto de inúmeras formas. Uma prévia do Copa do Mundo, um exercício de adivinhação sobre confrontos, sobre prognósticos. Poderíamos falar sobre os prováveis favoritos, os grandes fracassos. Falaremos de lendas. Desse processo tão fino e especial em que atletas rompem barreiras rumo a um espectro maior e de acesso mais que restrito. São casos tão raros, tão improváveis que textos não darão conta, mas é necessário escrevê-los. Tentaremos abaixo.

Messi. Um ídolo universal, reconhecido, exaltado, falado, falado, falado. Transcendeu a barreira do mortais dentro de seu microcosmos, seu clube, seu “país” chamado Cataluña. Pouco pra ele. Não existe um super herói que não se sinta incompleto sem a aprovação dos seus. Do seu sangue. A vida começa, termina e se define na intimidade. De que vale a glória externa sem que a validação venha de dentro, de quem chamamos por família.

No futebol, família é um termo complexo. Aqui, ela se refere a pais. A nacionalidade. O laço materno se define em cores, territórios e histórias. São fatores que nos fazem defender, brigar, amar e odiar um atleta. Observamos um sentimento de posse sobre os nossos jogadores. Criticar? Só nós. Se os outros o fizerem, compramos a briga. Na Argentina, Messi é “nosso”. As críticas são “nossas”. Os elogios externos não importam. Pra eles.

É o seguinte: Messi representa uma era, um grupo de garotos que carregam a responsabilidade de trazer a taça que eles tanto precisam. Talentos que fazem muito sucesso em suas jornadas individuais, mas que não conduzem seu país até a glória. Messi, o dono de bolas de ouros aos montes, deixava a desejar. Exista uma espécie de dívida de um filho com seus familiares. Ele é inquestionável pro mundo, mas é no âmbito “pra nós”?

A dívida foi paga, em partes. Messi decidiu. Messi conduziu. Condizente com o que se espera dele, fez sua passagem praquele nível que faltava, dentro da família. Subiu um degrau. Livrou os seus se um vexame histórico à fórceps, sob talento e com muito amor às cores que carregou no peito. Peito Argentino que estará na Copa do Mundo. Peito de quem é, de uma vez por todas, um filho da terra que venceu por ele, por eles todos. Lendário.

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