“O Estado sou eu”, disse uma vez o rei francês Luis XIV. Ele se tornara a referência do absolutismo na Idade Moderna, símbolo da concentração do poder e da ostentação de riquezas. Como materialização desse prestígio, o rei construiu um novo palácio, afastado do centro de Paris e que servisse como marco de tamanha autoridade.

“Roland Garros sou eu”, deveria dizer o velho/novo rei Rafael XI. A coroa teima em permanecer em suas mãos, mesmo que a revolução no saibro francês lute contra sua hegemonia. Lá se foram sete batalhas, nas quais bravos adversários tentavam em vão acabar com a supremacia de Nadal.

Guerreiros de várias partes do mundo foram até Paris para desafiar o rei, e sucumbiram como um castelo sustentado por pilares de sal e areia. Se Coldplay cantou a morte do rei no seu hit “Viva la vida”, este rei não morre nem mesmo quando tudo parece escurecer-se. Das negras nuvens do ceu veio a salvação, com a chuva que cortou o ímpeto do pequeno Diego Scwartzman, único que conseguiu tirar um set do grande Nadal.

Na final, um príncipe austríaco chegava credenciado a ser a maior ameaça para a coroa. Thiem tinha sido o único a derrotar Nadal em batalhas no saibro em 2018. Mas o príncipe só será coroado quando o rei perder o seu trono. E desta vez, o jovem príncipe parecia um infante que ainda precisa de muitos anos para honrar as suas vestes reais. Lutou bravamente, mas falhou em todas as vezes em que precisou da estratégia. Foi 100% transpiração, mas sem nenhuma inspiração. Saiu atrás, e lá permaneceu ao longo de três sets que acabaram sendo muito mais rápidos do que os fidalgos espectadores esperávamos. E a cada vez que chegou perto do rei, pareceu assustado e desperdiçou chance por chance com golpes juvenis que longe passavam das fronteiras do rei Nadal.

Philippe Chatrier se torna agora o palácio real. Palco de mais um título, a quadra central de Roland Garros viu mais uma vez um desfile do rei. Focado, intenso, lutando pela coroa como se fosse única e não houvesse outra chance de conquistá-la. Jogou com maestria, e acima de tudo, destruiu mentalmente seu adversário. Foi atrás de bolas impossíveis, obrigando seu rival a querer bater sempre mais forte, e a errar muito mais do que é admissível numa batalha desta envergadura. E quando atacou, usou todos os recursos, especialmente a velocidade para contra-atacar e subir à rede quando necessário. Venceu, como quase sempre.

Nadal se torna Rafael XI. Sim, onze títulos do espanhol no saibro de Roland Garros. Apenas duas derrotas em toda a sua vitoriosa trajetória em terras francesas. Se no Brasil choramos a morte da rainha do tênis, no mundo ninguém pode questionar que o rei do saibro está vivo. Que venha a grama, e que Deus salve os reis do tênis.

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