“Foi o dia em que eu passei mal por causa de futebol. Sim, sim, foi naquela jogo lá do Parmera com o Atlético do Paraná, em 2014. Nossa senhora, começamos perdendo, o Santos tava empatando lá com o Vitória, a gente tava caindo mesmo. O Henrique até empatou pra nós, mas ficamos esperando acabar lá na Bahia. Quando o juiz apitou, eu enxerguei tudo preto, ouvi um zunido ininterrupto no ouvido, apaguei. Foi o dia mais agonizante que já passei com futebol durante meus 22 anos.

Sabe, eu sempre contei essa história pros amigos que diziam que futebol não é coisa digna para tamanha reação visceral, para mesclar sentimentos essa forma tão intensa. A ideia sempre foi justificar que é involuntário, é algo que transcende ideias prontas e afins. Era Palmeiras, um universo apaixonante, mas que causava dor, decepção e um visão distante que em algum momento a chave viraria, além de um questionamento interno sobre: “porque eu não nasci uns 20 anos antes? Porque desde que nasci as coisas pararam de funcionar tão bem?”

Não há uma resposta que seja suficientemente coerente e correta pra dar, mas a emoção que ainda domina meu teclado (molhado pelas lágrimas que insistem em cair) me conduz a dizer que “foi assim pra poder represente tanto, demorou pra ser melhor”. Aquela comida que demora a se aprontar, a menina que demora a ceder aos encantos, o emprego que reluta tanto em aparecer, a vitória que finge não existir, que até faz um gracejo, mas ela vem. Ela sempre vem, hoje eu posso te garantir.

Meu time, Palmeirense, é campeão. Vocês estão dizendo isso como se fosse inerente à sua vida, não? Mais comum que dizer “oi”, a celebração pula da garganta pra explodir em glória. Eu entendo. Eu digo. Eu vivo. Eu, vocês, Palmeiras. Sabe aquele verso de “às vezes a felicidade demora a chegar, aí é que a gente não pode deixar de sonhar..” pois é, o verso termina igual a essa história de um sonho: sua hora vai chegar! Chegou. E foi da forma mais bonita pro torcedor, como ele sempre imaginou.

Não será nesse texto que foi feito do Palmeiras pro Palmeiras; uma conversa de irmãos, que falaremos que Dudu é craque, o dono dessa revolução verde, que Moisés é herói, que Tchê Tchê é uma revelação, que Jailson é o personagem, que Prass é a ressureição do espírito de vitória, que Nobre é o maior é que Cuca precisa ficar pra sempre no clube, rs. Não será aqui, porque a gente tá falando isso já há algumas semanas, né, meu amigo. Ontem, com taça, o copo e o coração nas mãos, tudo isso vertia pela mente, dominava a razão, ainda que ela fosse puro sentimento.

Tá sentindo esse cheirinho de orgulho, né. Esse cheirinho de fim de tabu, de fim da piada, de choro, de riso, de futuro de presente e presente de festa, né? Parece mesmo um verdadeiro aquário para tanta alegria. Palmeirense, não importa o que você vai ouvir, ler ou ver, a alegria está nesse coração que sofreu tanto em 2014, 2012, 2002 e em milhões de momentos, mas que está sendo recompensado, que está espantando os fantasmas, que chegou lá.

Não, meu amigo, não é o último, não é o mais valioso, o mundo não acaba aqui, mas os grandes momentos se encerram em si mesmos, ficam presos entre os seus, nas filas do metrô da Barra Funda, na Caraíbas e Palestra Itália, na Avenida Paulista, no trio elétrico, no choro do Allianz Parque, nas mãos de Dudu que ostentaram sua fibra sob taça. Acabou, Palmeirense, hora de dormir, de sonhar em paz. Você é campeão brasileiro de 2016.

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