Lá no começo dos cursos de jornalismo aprendemos que tudo o que vem a se tornar produto dos nossos jornais, revistas, sites e programas partem de um ponto comum e fundamental: a pauta. Basicamente, pauta é uma sugestão de assunto a ser abordado e as formas pelas quais isso deve ser feito. A pauta vem de uma percepção pessoal, da necessidade do veículo, de uma prática habitual de seus comandantes ou através de uma agenda de público. Aquilo que um certo nicho de receptores querem ver. Hoje, o Linha foi pautado e o dono da ideia é Dorival Junior, treinador do São Paulo.

Dia tranquilo, jogo pouco animado e pouco problemático na intensa jornada do tricolor no BR17. Empate em um a um, no Rio. Em coletiva, o treinador diz que: “Vocês precisam falar dessa torcida.” Falaremos. Não por pressão, mas por merecimento. É um povo que carregava fardos e famas historicamente negativos e expulsou inúmeros fantasmas, inclusive o da série B, a plenos pulmões e paciência. Persistência de quem soube seu papel em um momento inesperado e incomum pra um habitual dono da América.

Aos fatos: Cícero Pompeu de Toledo soltando torcedores pelos ladrões do Morumbi, um bairro de acesso complicado, trânsito destruidor. Pacaembu, ainda mais. Não houve desculpas, houve presença. Acompanhamentos épicos do ônibus tricolor pelas ruas da selva de pedra, ao invés de pedras no ônibus em terra. Imagens que entram para os altos do São Paulo e do futebol como um todo. Médias de público altíssimas. Apoio em treino. ESTANDO NO Z4.  Se você achou exagero, provavelmente você está diagnosticado com enfermidade aguda na articulação braçal chamada de cotovelo.

“A torcida deu show mais uma vez. Vamos para casa felizes: nós e o nosso torcedor. Esse é o comprometimento que temos cobrado, todos sabem jogar e para estar no São Paulo só ser bom não adianta, tem que jogar com coração. Só assim você pode vencer os jogos, porque o Brasileiro é um dos campeonatos mais difíceis do mundo. Temos buscado jogar todas as partidas como se fossem finais”, Hernanes.

Essa declaração é como o clube: grande. Gigantes caem, não se iludam, mas a resistência e a resiliência em levantar-se quando derrubado, ah, essa sim é uma glória a se gabar, são paulino. Carregar e incutir esse sentimento sob seus jogadores é motivo de festa muito mais valiosa. É construir uma cultura que faltava e alicerçar coisas maiores e mais poderosas para que esses momentos difíceis venham menos, venham nunca.

2017 foi uma benção para o tricampeão mundial. Um dos maiores anos de sua história invejável. Ano de reencontrar-se com o que se tem de mais valioso, de olhar pra si com orgulho. As vitórias enfileiradas fizeram mal, afastaram time e aficionados.  Fez um São Paulo soberbo. Perdeu essência. Hoje, o sofrimento devolve boa parte. Deu doses de humildade, aproximação e a percepção que unir forças e admitir dificuldades faz um bem enorme. Que se saiba aproveitar um ano tão importante.

Obrigado pela pauta, professor.

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