Comecei a torcer pro Liverpool em 2001, 2002, com uns 10 pra 11 anos. Na época eu via Owen, aquele loirinho com cara de moleque correndo pra cima dos zagueiros duros da Premier League e fiquei encantado. Virei fã do então camisa 10 dos reds, a ponto de comprar. Ele saiu pro Real alguns anos depois e eu.. bom, eu parei de gostar tanto dele e comecei a gostar mais do time que ele jogava. A torcida, a atmosfera de Anfield, os cantos. Era mágico.

E nesses 17, 18 anos torcendo pro Liverpool, aprendi muitas coisas. Mas a principal delas é lidar com a dor.

Ainda criança, presenciei aquela final absurda de Champions League, em Istambul, lá em 2005. Lembro que eu tinha TV a cabo e o jogo só ia passar no Brasil em um canal que só tinha pela parabólica. Tive que ver no quarto dos meus pais (além de faltar na catequese. Prioridades, vocês entendem rsrs). Vi o Milan fazer um… dois.. três. Criança birrenta, daquelas que não sabem perder, comecei a chorar. Copiosamente. Meus pais estavam trabalhando, então restou à moça que trabalhava em casa o serviço de me consolar. Me acalmei um tempo depois e resolvi ligar a TV de novo. O jogo já havia acabado. Liverpool campeão. Chorei de novo por não ter visto aquilo. Mas aprendi que com esse time, você tem que segurar a dor. Como aprendi alguns anos depois, “at the end of the storm, there’s a golden sky”…

A paixão de criança virou amor – às vezes até obsessão – de adulto. E nisso, acompanhando uma fase bem turbulenta do clube. Os títulos rarearam. Jogadores de qualidade bem questionável chegavam e saíam. Decepções acumulavam.

Lembro bem da temporada 2008/2009, com Torres e Gerrard destruindo, mas o United ficando com o título. Mas voltamos.

Depois de mais duas temporadas sem título nem progresso, El Niño saiu “pra ganhar títulos no Chelsea”. Uma facada no peito.

Vimos Roy Hodgson quase levar o clube pro rebaixamento, King Kenny Dalglish voltar, recuperar o orgulho e, ao menos, conquistar uma Copa da Liga. Mas os tempos de glória ainda estavam longe de voltar a Anfield.

Lembro melhor ainda de 2013/2014, com o trio Sterling, Sturridge e Suárez infernizando as defesas ingleses, Coutinho virando World Class e Gerrard tendo a oportunidade de levantar uma Premier League pela primeira vez na carreira. Lembro de estar viajando quando o time foi enfrentar o Norwich, fora de casa, e procurar desesperado um local pra ver a partida, crucial pro campeonato (havíamos vencido o City antes e só dependíamos de nós pra sermos campeões). Encontrei um quiosque na beira da praia com ESPN, nem acreditei, Ali, vi a vitória suada e nosso captain fantastic dizer “We do not let it slip now”. We did, Stevie. You did. na rodada seguinte, o escorregão mais cruel da história do futebol fez Gerrard de vilão, o City líder e mais um buraco no coração do torcedor red. “We go again”, dizíamos, esperançosos de um bom futuro sob o comando de Brendan Rodgers.

De novo decepção. Champions frustrante, Premier League fraca e “Rodgers out”, gritamos. Chega Jurgen Klopp, o alemão mais amável do mundo. A esperança volta a pairar pelos ares da área vermelha de Merseyside. Klopp consegue ter sucesso, contratar bons jogadores e nos traz de volta a uma Champions. O pessimista aqui voltava a crer. Como o alemão mesmo disse na sua chegada a Liverpool, “let’s change this from doubters to believers”

Ah, e essa Champions. Teve de tudo!! Mas agora eu, já adulto, não conseguiria mais assistir do conforto de casa. EI Plus para que te quero! Entre uma pauta e outra, ali estava o celular ligado nos reds (que meu chefe não leia isso rs). Da telinha, principalmente, vi Arnold florescer contra o Hofenheim, Firmino, Mané e Salah destruírem na fase de grupos, o atropelo contra o Porto, a sapatada de Ox e um time unido derrubando o favorito City, o sofrimento e a glória contra a Roma… até chegar a final.

Era o Real Madrid. Atual bicampeão. Acostumado a vencer a UCL. Nós sabíamos das dificuldades e das baixas probabilidades. Apesar de confiantes depois de vencer contra todas as previsões, estávamos preparados pra uma eventual derrota.

Mas não dessa maneira. Não com sujeira do jogador mais maldoso que o Mundo vê e viu nos últimos cinco anos. Não com o craque, o mágico e o simpático Mo Salah saindo machucado, chorando, ainda no primeiro tempo. Não com um gol bizarro, um antológico e outro em falha grotesca. Não com esses requintes de crueldade.

E mesmo depois de tudo isso, de todo esse sofrimento e de mais dor ainda pra um clube já acostumado a sofrer, o que a torcida faz? Aplaude seu goleiro, o maior responsável pela derrota. Isso porque o torcedor do Liverpool sabe que não acabou. Nós sabemos que voltaremos mais fortes, mais apaixonados, mais calejados e cascudos pras próximas batalhas. Nós vamos ganhar um dia e vai ser saboroso. Também sabemos disso. Sabe como?

“At the end of the storm, there’s a golden sky”. Nós temos certeza disso. Até temporada que vem, Reds.

 

WE

GO

AGAIN

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