Não, o centroavante alviverde não deve filosofar sobre ousadura ou protagonizar lançamentos gersônicos. Não que seja má ideia, mas seria roteiro pra fantasia. Borja precisa do que não se vê a olho nu, mas se compreende com a consciência.

Não há qualquer comprovação científica e nem deve haver a curto prazo que nos embase pra dizer que um atleta profissional ou até mesmo os de fim de semana podem aprimorar suas atividades a partir de um aumento não tangível, não material, mas todos nós aqui sabemos que uma pessoa com alto rendimento também têm uma dose elevada de CONFIANÇA.

É discurso frequente e até uma justificativa chata, ainda que plausível, falar sobre confiança. Ou a falta dela. Se há sucesso, recebe os créditos. Se não, o motivo. A questão que fica é como praticar o ônus da prova nesse caso, como comprovar.

Essa tarefa fica a cargo da percepção de mundo de cada um e de uma dose humana para se entender que não lidamos com máquinas. Há fatores não numéricos e tampouco logaritmos que planifiquem esse tema. Só existe senso da dificuldade alheia.

Borja é, queiramos ou não, um garoto. Jovem é um tanto quanto prematuro. Viveu coisas grandes com pouca vivência. Teve sucesso meteórico em meses e ganhou a plaquinha de decisivo. Talvez, sua cabeça não tenha costas largas para explicá-lo os caminhos para suportar esse fardo.

Na estreia com a camisa Palmeirense, sob uma recepção de rockstar, olhava o jogo como se olhasse um palco. Era tudo pra ele. Se furasse ridiculamente, sabia que seria aplaudido. Faz um gol em que atravessa o campo se sequer olhar pra trás. Exalava confiança. Por mais que tivesse alguma dúvida, agia com clareza e eficácia. A sequência..

Os erros naturais se amontoaram, um peso suportável. A questão é que os milhões de ombros que o ajudavam a aguentar, foram saindo de cena. Ficava mais difícil. Borja foi se isolando em seu mundo que ficava mais real. A fase de conto de fadas não era mais tão bonito. Tinha que achar um caminho, mas o que achou foi um imensa dívida sobre si.

Com treinadores que não acreditavam mais em seu trabalho, ficou em xeque e em choque. Como reagir. Era um cenário novo pra ele. A pressão agora era contra. A torcida virou plateia à espera de algo novo. Borja não entregou. Nem se entregou ao jogo, só aos próprios problemas.

A confiança. Ela sumiu. Ela que esconde as dificuldades de cada um, ela que disfarça as dores e transforma talentos. Ela que sobra em alguém como Felipe Melo. Alguém que passou por até maiores problemas, maiores contestações e nunca perdeu essa companhia. Parede viver uma redoma intocável. Ele acredita no que faz e isso é inabalável. Ah, se Borja tivesse um pouquinho.

O ano recomeça e o camisa 9 recebe uma dose externa de confianças vinda de vários lados. Treinador e boa parte de torcedores ao lado. Parece reagir, mas ainda oscila. Ele não se decide se agarra de vez a confiança ou se deixa abalar a cada erro. A cabeça frequentemente baixa a cada insucesso é sintomática. Vai perdendo as forças e cede a cada segundo tempo sem gol.

Felipe, pelo contrário, se erra, busca consertar em instantes e refaz o quanto for necessário. A confiança delimita muita, mas muita coisa nesse universo maluco que é o esporte. Um conceito quase inanimado que interfere diretamente em setores profundos das pessoas que fazem o espetáculo acontecer.

Pra Borja, o desejo de encontrar isso que lhe falta. Se será um histórico atleta do alviverde de Palestra Itália, não se sabe, mas provavelmente poderá ser muito mais do que um homem de 30 milhões de reais.

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