Apesar de figurarem entres os melhores do mundo, muitos para-atletas brasileiros ainda enfrentam a falta de investimento privado

Em Londres-2012, o comitê paralímpico do Brasil conquistou 41 medalhas (21 de ouro, 14 de prata e 8 de bronze) e o sétimo lugar no ranking geral. No Parapanamericano de Toronto-2015 foram suadas 257 medalhas (109 de ouro, 74 de prata e 74 de bronze) e pela terceira vez seguida o primeiro lugar na classificação.

Mesmo com o tão bom desempenho, os atletas paralímpicos continuam enfrentado uma série de problemas, e o maior deles é a falta de investimentos. O dinheiro destinado ao CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) não chega nem a metade do valor recebido pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro). Enquanto o primeiro possui uma verba anual de cerca de R$336,9 milhões o segundo conta com mais de R$700 milhões.

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Ainda dentro da questão dos investimentos, outro fator chama a atenção, o desinteresse privado nesses esportes. Quase 100% do dinheiro vem do poder público através da Lei Agnelo/Piva, sancionada em 16 de julho de 2001, que prevê a destinação de 2% da arrecadação das loterias federais ao Comitê Paralímpico. Dois grandes fatores podem explicar este desinteresse: o preconceito ativo e a questão do lucro.

A Associação Brasileira de Recursos Humanos, em pesquisa encomendada no ano de 2013, mostrou que mais de 65 % dos empresários entrevistados apresentavam algum nível de resistência nas contratações de pessoas com deficiência. Isso tudo no âmbito empregativo,e quando tratamos de esportes, a visão piora. Os atletas deficientes acabam por encenar histórias de superação, que por vezes os fazem passar por “coitadinhos”. O atleta Fernando Fernandes e o jornalista Jairo Marques, ambos cadeirantes, já deram declarações dizendo que não gostam dessa visão da sociedade sobre eles. Sim, paratletas são muito mais que exemplos de superação.

Essa visão se relaciona diretamente com a questão do lucro. Os esportes paralímpicos ainda não alcançaram o status de produto, ou seja, não oferecem aos investidores o retorno que desejam. Não movimentam o mercado tanto quanto esportes olímpicos devido à baixa audiência. E por quê?

 O BOLSA-ATLETA

bolsa atleta

O incentivo ou a falta dele é o outro problema a ser vencido. Criado em 2005 pelo governo federal, o Bolsa Atleta é uma das poucas medidas públicas em prol dos esportes (olímpicos e paraolímpicos) e ainda assim possui defeitos. O objetivo é justamente auxiliar atletas de alto potencial que não possuem patrocínio ou condições de se dedicar unicamente a prática esportiva. De acordo com o próprio secretário do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser, “O público alvo são atletas e paratletas de alto rendimento que obtêm bons resultados em competições nacionais e internacionais de sua modalidade”.

Os valores oferecidos pelas bolsas variam de R$ 370 (nível básico e estudantil) e R$ 3,1 mil (categorias olímpica e paralímpica) e só podem ser acessados pelos atletas que se classificarem entre os três primeiros de sua modalidade seja em nível nacional ou internacional. Ou seja: apenas os melhores dos melhores são contemplados, o que ocasiona em centenas de paratletas e atletas de fora, desestimulando a prática esportiva e distanciando cada vez mais o Brasil do tão almejado pódio. Como formar atletas de alto rendimento com um sistema que premia apenas quem já atingiu o ápice e não se preocupa com a base?

E se mesmo com todos esses problemas, o Brasil chega às Paralimpíadas Rio 2016 como potência, podendo chegar ao top-5 mundial, imagine onde poderíamos estar se fôssemos um país minimamente estruturado para ser bem-sucedido nos esportes? Nós, amantes do esporte, torcemos para que este dia chegue o mais rápido possível. Embora, hoje, ele pareça utopia.

Colaborou com produção e reportagem: Larissa Cavenaghi

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