Fundada em 2015, a Primeira Liga surgiu como uma revolução e uma perspectiva de mudança grande na administração do futebol brasileiro, dominado há anos por dirigentes acusados de corrupção na CBF e nas federações estaduais, nas quais os clubes não tem autonomia nenhuma na organização dos campeonatos e nas principais decisões que definem os rumos do futebol de clubes no Brasil.

Composta inicialmente por 13 equipes dos estados de Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro (Flamengo, Fluminense, Internacional, Grêmio, Atlético-MG, Cruzeiro, Coritiba, Atlético-PR, Joinville, Chapecoense, Criciúma, Avaí e Figueirense), a Primeira Liga tinha o objetivo inicial de oferecer um torneio que fosse mais competitivo e atraente para o público do que os estaduais, além das cotas de TV pela transmissão do evento. Flamengo e Fluminense prometeram utilizar reservas no Campeonato Carioca para priorizar a nova competição.  Além disso, a Primeira Liga, como uma liga independente de clubes, seria o primeiro passo para que os clubes ganhassem mais autonomia nas discussões junto à CBF e às federações estaduais podendo culminar, no futuro, com o Campeonato Brasileiro sendo organizado pelos próprios clubes.

A competição começou a ser disputada no ano passado. Quase dois anos depois de sua criação, entretanto, o cenário é bem diferente do imaginado quando a Primeira Liga foi criada e divulgada na imprensa esportiva. Na parte administrativa, os membros da organização já se desentenderam, com afastamento e volta do presidente , Gilvan de Pinho Tavares. Já Coritiba e Atlético Paranaense abandonaram a Liga este ano por não concordar com as cotas de televisão oferecidas.

Dentro de campo a competição também vem passando longe de seu objetivo principal. Sem o reconhecimento da CBF como uma competição oficial do calendário do futebol brasileiro após pressão da Federação Estadual do Rio de Janeiro e com a mudança de calendário em 2017 que levou a Libertadores da América a ser disputada até o fim do ano, equipes tem jogado duas vezes por semana em intervalos curtos e utilizado jogadores reservas na Primeira Liga. Além disso, os técnicos têm poupado atletas para outras competições, inclusive campeonatos estaduais.

De uma ideia inovadora e revolucionária, a Primeira Liga se transformou em um estorvo no calendário para os clubes que a disputam, pois somou-se à estaduais, Libertadores, Copa do Brasil, Copa Sul-Americana e Campeonato Brasileiro. Segundo o blog do Rodrigo Mattos, no UOL, a ideia para 2018 é transformar o torneio em uma competição no início do ano, com sedes fixas como ocorre na Florida Cup, ou seja, quase um torneio de pré-temporada. A Primeira Liga falhou no seu objetivo. De uma das principais competições do ano na ideia inicial se transformou-se em uma das menos importantes e em breve pode virar quase uma série de amistosos de pré-temporada. Mais uma mostra do poder da velha cartolagem brasileira e da dificuldade que será mudar esse cenário em um futuro próximo.

Não basta a criação de uma liga independente  e de uma nova competição. Os clubes terão que deixar de ser submissos à CBF e as federações estaduais. Enquanto não entenderem que  são os donos do espetáculo e exigirem maior participação, como na organização dos campeonatos,  o futebol brasileiro continuará parado no tempo.

 

 

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