A rotina do torcedor de arquibancada no estado de São Paulo vem piorando a cada ano, dia, mês e rodada. Ministério Público, Polícia Militar e os próprios clubes estão conseguindo acabar com a alegria de um dos programas prediletos do paulistano: ver um jogo no estádio de futebol.

Cresci com meu pai me levando ao estádio desde 1993, quando eu tinha apenas 3 anos de idade. Até hoje esse é o programa que eu mais gosto de fazer. Não só pelo jogo em si, in loco, que é muito mais emocionante, mas também pelo pré-jogo com os amigos, o pernil e a cerveja gelada, uma das melhores combinações que os Deuses do Futebol já inventaram.

Agora, pelas alamedas do Allianz Parque, estádio do Palmeiras, a PM e alguns funcionários do clube simplesmente não deixam os torcedores chegarem perto do estádio. Bares vazios, ambulantes impedidos de trabalharem, moradores com dificuldades de chegar em casa, clima de absoluto velório num dia que era pra ser de alegria, de futebol.

Tradicional festa da torcida palmeirense, hoje não existe mais antes das partidas (Foto: Leandro Martins/FuturaPress)

Passado o aborrecimento do cerco no estádio, chega a hora da revista, onde é proibido entrar com faixas, máscaras, cara pintada e às vezes até bandeiras. Indignação é pouco por essas pessoas que nunca pisaram num estádio de futebol, definirem o que é lei e o que pode e o que não pode dentro de uma cancha.

Por que o clube aceita tudo de boca fechada? Eu não consigo entender… Tamanha é falta de sensibilidade com o seu maior patrimônio, o torcedor. Ou isso talvez explique o real desaparecimento do verdadeiro pobre torcedor dos estádios, o silêncio da plateia demonstra que a alma geraldina está falecida. O ingresso é muito caro para não poder fazer absolutamente nada…

Já na Arena Corinthians no último sábado, no jogo entre os donos da casa e o Santos, após uma torcida organizada corintiana acender alguns sinalizadores, o setor oeste do estádio se voltou indignado com os torcedores que estavam fazendo a festa e comemorando mais uma vitória do Corinthians em um clássico.

O torcedor Vinícius Messias, 26, estava no setor das organizadas durante o ocorrido e apoia quem acende sinalizador no estádio. “Não pode levar mais nada para a arquibancada, até batuque agora é só na palminha, e é só aqui em São Paulo que existe essa palhaçada, você vai em em qualquer jogo fora do Estado e pode tudo.” finalizou Vinícius.

Lembrando que o clube é multado cada vez que isso acontece, exatamente por isso houve grande revolta das “numeradas”. Os sinalizadores são de fácil acesso e de impossível fiscalização, portanto seguirá sendo por um bom tempo a única resistência daqueles que lutam pela festa na arquibancada. E convenhamos, um pisca-pisca não mata ninguém.

Será que não devemos cobrar uma postura mais forte do Corinthians, dos outros clubes e da própria Federação Paulista para que isso mude, ao invés de ficar brigando contra quem apenas quer fazer festa no estádio? No Rio de Janeiro os clubes bateram o pé contra a Federação, e a babaquice dá torcida única não teve vez por lá. É só ter um pouquinho de união e força de vontade que as coisas mudam.

Fumaça dos sinalizadores ‘atrapalhando’ muito o espetáculo entre Corinthians x Santos no último sábado (Foto: Bruno Cassucci/Globo Esporte)

Os clubes paulistas são muito culpados por essa ‘nutellização’ do nosso futebol. O verdadeiro torcedor nunca é colocado em primeiro lugar por aqui. Esquecem que sem torcida, qualquer clube não existe . Estádio sem festa, sem fumaça, sem alegria, para mim, é teatro.

Aqui não pode mais batuque, bandeira, máscara, bexiga, cerveja, pisca-pisca, duas torcidas e provocação de jogador. Chegaremos ao dia que será proibido falar palavrão também, aí fecha o caixão e enterra o nosso glorioso futebol paulista. Já saberemos pelo menos quem foram os culpados.

Essa foto da capa é de Novembro de 2005. Corinthians e Ponte Preta se enfrentavam pela penúltima rodada do Brasileirão daquele ano, no estádio do Morumbi. Esse foi o recebimento dos corintianos na subida do time ao gramado.

Consegue imaginar uma cena parecida com essa nos dias de hoje?  Eu também não, lamentável…

Comentários

comentário