Quando Patrício Loustau apitar o início do jogo entre Uruguai e Brasil às 20h da próxima 5ª feira, uma grande confusão terá sido gerada na maior emissora de televisão do país. Afinal, toda a habitual programação da rede do plim plim deverá ser adequada à transmissão de um dos maiores clássicos da América do Sul. Mas o que aconteceria se, em vez da televisão aberta, o jogo fosse exclusividade da Netflix? Em quais categorias poderia se encaixar?

O jogo bem poderia ser um episódio de um documentário. Afinal, trata-se de um dos mais tradicionais confrontos do continente. Até hoje, os vizinhos já se enfrentaram 74 vezes, com superioridade verdeamarela, 34 vitórias, contra 20 celestes e igual número de empates. Nesses jogos temos desde amistosos (alguns nada amistosos) até mesmo jogos decisivos. O fantasma de Maracanã assombra a disputa, afinal, foram os uruguaios os responsáveis pela primeira grande decepção brasileira em Copas do Mundo, no último jogo da Copa de 1950 que acabou com a vitória e o título da celeste olímpica. Por outro lado, o último embate em mundiais ocorreu numa brilhante semifinal no México, em 1970, quando a melhor seleção de todos os tempos foi muito para 11 bravos orientais e venceu o jogo de virada por 3 a 1, num jogo marcado pelo quase gol mais bonito da história.

Mas o jogo que será realizado em Montevideo também terá requintes de suspense. Como reagirá o Brasil sem Gabriel Jesus e Douglas Costa? Conseguirá o Uruguai jogar sem seu craque, o polêmico e eficiente Luis Suarez? Quanta falta fará o instável goleiro titular charrua Fernando Muslera? Conseguirá o Brasil repetir os bons jogos e a capacidade goleadora adquirida a partir da chegada de Tite? A defesa uruguaia, que sofreu apenas um gol em casa em todas as eliminatórias, conseguirá manter o bom nível e continuar ajudando no ataque?

Os quase 60 mil espectadores que esgotaram os ingressos do Estádio Centenário esperam que o jogo tenha momentos de fantasia. E nessa hora, os olhares se dividem entre dois craques internacionais. Um que é, por erros próprios, tem maior reconhecimento fora do que no próprio país: Neymar. Capa dos jornais uruguaios, maior medo da defesa celeste, o atacante do Barcelona é, sem dúvidas, a grande arma da seleção pentacampeã mundial para quebrar a forte marcação uruguaia e garantir mais 3 pontos para o time dirigido pelo Tite. O outro, já foi vítima, vilão e heroi: Cavani. Chegou à seleção quando Forlán e Suarez eram indiscutidos no ataque, e foi obrigado a ganhar seu espaço jogando recuado, voltando para ajudar na marcação. Quando precisou substituir Suarez na Copa América 2015 e na Copa América Centenário de 2016 foi muito mal e acabou contestado por torcida e imprensa. Mas nas eliminatórias marcou gols decisivos e recuperou a confiança e carinho de todos através de entrega e gols.

Ao mesmo tempo, o jogo pode apresentar características de filme de faroeste americano. São dois times que se caracterizam pela forte marcação. Talvez o grande destaque do time uruguaio seja sua zaga, formada por um dos melhores jogadores do mundo na posição: Diego Godín. De ótimo jogo aéreo, ganha espaços no ataque, é sólido na defesa e se transforma no patrão do time, elevando a expressão “garra charrua” a um nível que fazia tempo não era visto por terras cisplatinas. Já do lado verdeamarelo, há dúvidas sobre quem pode desempenhar a função de liderança, mas mesmo assim, e numa característica clássica dos times dirigidos pelo Tite, trata-se de uma equipe bastante sólida na marcação, que leva poucos gols, marca sob pressão e tenta encurralar seu adversário mesmo jogando fora de casa. Casemiro deverá ser o líder dessa forte marcação, protegendo Marquinhos e Miranda e tentando dar segurança ao instável goleiro Alisson.

Todo bom filme (ou bom seriado) tem aquela personagem secundária que por momentos rouba a cena. Cada um dos times tem jogadores que se encaixam perfeitamente nesse perfil. Do lado brasileiro, embora as atenções estejam voltadas para o Neymar, Philippe Coutinho precisa ser olhado com atenção pela defesa uruguaia. Extremamente habilidoso, de bom chute a gol e grande capacidade de assistências, pode ser um verdadeiro pesadelo caso a marcação foque exclusivamente no atacante do Barcelona. Já no Uruguai, a falta do Suarez, suspenso por acúmulo de amarelos, leva Cavani à função que menos gosta, que é a de protagonista. Dessa forma, o time celeste perde seu principal coadjuvante, e precisará de uma noite inspirada do seu principal jogador de meio de campo, Carlos Sanchez. Campeão da Libertadores 2015 com o River Plate, o atual meia do Monterrey é o dono das bolas paradas (maior arma charrua), além de se destacar por bons lançamentos e chegadas como elemento surpresa.

A pipoca estará pronta. O refrigerante estará gelado. O filme vai começar. Resta só saber para quem será uma comédia, e quem terá pesadelos após assistir a um filme de terror. Bom jogo!

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